UM OLHAR SOBRE A ARTE DE ESCREVER, A VISÃO DE PRIMO LEVI
O presente texto pretende levar ao público uma interpretação do que o químico e escritor Primo Levi entendia por escrever, com uma olhada também em sua opinião sobre tradução.
Primo Levi entende que não há escritor racional. Segundo ele, não existe também uma fórmula para ser escritor, cada um se mostra como é. O autor italiano diz ainda que a arte tem que vir de dentro, da alma e sem regras, sem frescuras. Na concepção dele escrever é desnudar-se, e não há espaço para lugar comum na arte. Apesar disso e para alcançar o público almejado, sugere que, após ter decantado o inconsciente no papel, o autor deixe o texto descansar por um tempo. Só depois disso avalie minunciosamente, retire tudo que engorda o texto: redundâncias, explicações excessivas, pontuações desnecessárias. Mas, seguindo tal linha de raciocínio, a ideia central do texto não pode ser mudada. Altera-se nesse processo apenas a parte física para torná-lo, digamos, palatável.
O ponto de partida do escritor deve ser a pergunta: porque se escreve? Partindo dessa premissa, com a resposta em mãos, o artista literário dá vida ao seu inconsciente materializando-o através da palavra.
Porém, escrever um romance requer mais. Primo Levi considera tal empresa como super escrever. perde-se a liberdade sem limites. O(s) personagem(ns) não podem ser perfeitos, há que se ater há um tema, nada pode ser perfeito na verdade, sob pena de causar tédio aos leitores.
Seguindo a mesma linha de raciocínio que diz que o autor deve se ater ao seu próprio inconsciente, as traduções não atendem ao que se propõem: traduzir. Ora, o raciocínio de quem escreve está num certo significado, naquele em que sua alma repousa no momento da escrita. O escritor interage com seu meio, sua língua, sua vida. E a tradução não alcança esse significado. Como nunca é exata, apenas descreve a expressão, não o pensamento que gerou a expressão. Digamos que a tradução não alcança o âmago do que foi dito no papel. No que diz respeito a interlocução, seu papel é apenas aproximado, consegue somente minimizar a dificuldade de comunicação entre os diversos idiomas.
Para resumir, podemos dizer que um texto nasce da interação entre o autor e seu idioma. E cada tradução, ainda que seja minuciosa e não geral, deixa para trás um pouco da essência dessa interação.
*Primo Levi foi um químico e escritor italiano. Escreveu memórias, contos, poemas, e novelas. É mais conhecido por seu trabalho sobre o Holocausto, em particular, por ter sido um prisioneiro em Auschwitz-Birkenau.
Nascimento: 31 de julho de 1919, Turim, Itália
Falecimento: 11 de abril de 1987, Turim, Itália
Local de enterro: Monumental Cemetery of Turin, Turim, Itália
Filmes: Primo Levi's Journey, The Truce, Primo
Filhos: Renzo Levi, Lisa Levi
DISPONÍVEL EM:
*http://www.comunidadeculturaearte.com/a-misteriosa-e-evidente-morte-de-primo-levi/
*https://pt.wikipedia.org/wiki/Primo_Levi
*http://www.revistabula.com/8590-primo-levi-diz-que-formulas-literarias-nao-geram-escritores-e-empobrecem-a-literatura/