FANTASMAS DE OCASIÃO

Também tenho isso comigo: pressinto o cochicho do Mistério. E como homologar o texto do qual não se tem a certeza de que nascera de nossa urdidura? Como conferir autenticidade e assinar o que não seria de nossa concepção e lavratura? Por essas dúvidas e por consciência inata do mundo espiritual (frente à filosofia espiritualista que me fora passada), durante dois anos (1976/78) parei totalmente de publicar, apesar de continuar a escrever o que me vinha quando em “estado de poesia”, identificado pelo mestre Zeferino Fagundes, meu guru de reflexões e poesia. Vale dizer: aquilo que a espontaneidade ditava ao meu ouvido e contaminava a mão, a ponto de suar tanto que molhava o papel no qual eu pretendia deitar a ideia, a farsa e as fantasias, sonhos e seus irrequietos personagens. Era eu aquele que comunicava algo ou alguma coisa na qual o Novo alumiava os vocábulos e a luz entrava em mim. Algum tempo depois, dei conta de que podia ser o alter ego inominado. O meu eu disperso e fragmentado. Porém – talvez – aquele que está no mundo evangelicamente para propalar a condenação ao mistério da Palavra e seus fantasmas de ocasião.

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2015/17.

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