"Poesia é um descobrimento"
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Sim, confesso, não sei se por desajeitamento, ou por insuspeito disfarce da minha timidez ancestral, eu sou sempre melhor a escrever do que a falar. Sei lá, tenho uma "coisa" com a palavra escrita, uma estreita via de ligação com as palavras, uma intimidade com os sentidos delas (propiciado, talvez, pelo silêncio/solidão que nos aperta, na intimidade do acto de escrever...). E é por isso que quero esclarecer uma coisa que disse de viva voz - e que digo, recorrentemente - aqui, de viva expressão escrita.
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["...eu aprendo com as palavras, as palavras ensinam-me. Escrevendo, descubro coisas. Descubro-me. E gosto de fazer o exercício dessa descoberta"...], à luz das pequenas e grandes coisas, sob o efeito dos pequenos e grandes estímulos, na vivência das pequenas e grandes emoções.
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Sim, é verdade. E aqui, nesta conversa que fica só entre nós, disseco essa certeza, que eu própria repetia intuitivamente, sem realmente pensar de onde vinha:
As palavras estão gastas, as imagens banalizadas, as emoções descritas até à exaustão. A escrita, liberta mas às vezes libertina, é, por consequência, muitas vezes também desrespeitada. São muitas eras, muitos livros, muitos escribas, a esgotarem das palavras tudo o que elas, literal ou poeticamente, querem ou podem dizer.
Vejo um objecto: que imensidão de palavras já se usaram, para o descrever?
Vejo uma paisagem: quanta tinta já se gastou, para a fazer ganhar cor, horizontes, impressão fiel, na memória do papel?
Sinto: quantos livros excelsos, quantas páginas inférteis, quantos poemas imortais, quantos versos inglórios, já foram escritos, para sublimar todas as emoções, todas as sensações, todos os delírios?...
É por aqui - para quem quer ir além do bojador, a esses, o que lhes resta fazer, senão a perseguição de mares nunca navegados, ou a perseguição de praias nunca afloradas?...
...que me resta a mim, senão DESCOBRIR?
Tentar novas rotas. Ver de novo. Ver sob outra perspectiva. Incorporar as coisas, como se eu fosse feita da própria matéria das coisas. Sentir, como se se repetissem em mim todos os sentimentos do mundo. Ousar a íntima lonjura das neblinas, ou a entrega à sorte e às areias...
...que me resta a mim, senão aportar as palavras, sentir-lhes o chão como se fossem ilhas virgens, respeitando-lhes a ascendência e a eternidade? Conhecer-lhes a história, procurar os seus tesouros, aceitar-lhes o desafio da sede? Explorar-lhes todos os sentidos, perseguir-lhes todos os horizontes, percorrer-lhes todos os recantos, num DESCOBRIMENTO permanente, dinâmico, AMADOR?.....
É por aí: escrever Poesia obriga-me a ultrapassar o óbvio, a ir além do já dito. Obriga-me a tentar desvendar todos os mistérios das coisas, usando as palavras e as minhas próprias mãos. Permite-me conhecimentos que sem ela (a Poesia), me passariam despercebidos. Obriga-me a descobrir atalhos para o interior de mim mesma. Revela-me coisas que, mesmo tendo nascido dentro do meu sangue, nunca teria trazido à luz, nunca teria tirado da sombra da minha razão desatenta.
Loucura...?