O DEFINITIVO NÃO EXISTE, EM POÉTICA.
Em arte poética, importante é a diversificação de conceitos e opiniões sobre o infinito universo de criação – riquíssimo em contradições, como é o viver – no qual o poema surge espontaneamente não se sabe de onde, através do processo intuitivo. Está em causa a transfiguração da matéria da vida através do mistério dos signos e do potencial de sugestão que eles contêm. O que o poeta-autor logra obter é somente o aqui e agora: a instantaneidade. Porém, não é derradeira este conceptual de palavreado, formatos e conteúdos. O futuro advindo é antevisão estética formatada na ânsia da veracidade, a verdade traduzida ao teor de seu criador, curiosamente urdida na tessitura do sonho, da farsa e da fantasia, eis que o universo poético não pertence ao plano da realidade fática. Há sempre o desejo autoral – este completamente veraz – de que a temática venha a ser aceita com simpatia pelo receptor e chame a atenção por estar verbalmente bem configurada. É neste viés que as figuras de linguagem, especialmente as metáforas (o seu inesgotável potencial de sugestionalidade imagética) cumprem o seu papel de encantamento ou alumbramento, como queria o poeta pernambucano Manuel Bandeira. Bem, a matéria verbal tida como lapidar – efetivamente definitiva – somente será fixada depois da morte do autor do poema, visto que este, em vida, pode modificar a peça escritural a qualquer momento, ou seja, a cada edição da peça poética. Uma linguagem codificada em que o Mistério é a pedra-de-toque, e é este o universo da inteira voz que pode mudar o homem, e tendo esta como arauto e confraternidade, efetuar mudanças através de ações no plano da realidade. Por certo, a Poesia é vetor mudancista. Em Poética, no rigor técnico, filosófico e estético, o “definitivo” inexiste. Afinal, O POEMA É O PENSAMENTO EM MOVIMENTO, concebido pela intuição, através de signos e formatos estéticos. O polimento se dá pelo trabalho: o manancial humano que o dignifica. Como quem faz o mate-chimarrão, convida, e o oferece ao vivente habituado ao "amargo doce que eu sorvo...".
– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2015/16.
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