Cantiga da Ribeirinha-Séc.XII
A "Cantiga da Ribeirinha" é o texto mais antigo que se conhece na Língua Portuguesa, e data de 1198 ( Séc.XII), ele é de autoria de um trovador , Paio Soares de Taveirós.
O "Trovadorismo" , a exemplo da maioria dos movimentos literários, nasceu na França, e de lá para os demais países, sempre através da nobreza, já que o povo tinha pouco acesso ao conhecimento. Em Portugal, foi o rei Dom Dinis que se interessou pelo movimento, uma espécie de modismo da época.
Esta cantiga , que chegou até nós em escritas da época, foi dedicada a uma nobre chamada D.Maria Pais Ribeira (A Ribeirinha), da corte do rei Don Sancho I, uma mulher que encantou o jovem trovador , a ponto de lhe compor uma canção.
Um idioma se modifica 30% no período de 800 anos, e esta é uma média aproximada , segundo os linguistas, uma grande transformação embora não pareça, mas se imaginarmos que o inglês, por exemplo, tem mais de 30% de palavras de origem latina, poderemos ter uma ideia mais clara do que estamos dizendo.
Para estudar as antigas cantigas portuguesas, usávamos a evolução do idioma através dos textos, um trabalho de pesquisa, hoje os recursos são mais amplos. Vejamos como era :
" O mundo non me sei pareiha
Mentre me for como me vai
Ca já moiro por vós-e aí !
Mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea
E, mia senhor, dês aquel di' , ai !
Me foi a mim mui mal,
E vós , filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D'haver eu por vos guarvaia
Pois , eu mia senhor , d'alfaia
Nunca de vos houve nem hei
Valia d'ua correa."
A cantiga está em galáico-português, ( galáico de Galícia), uma região no noroeste da Península Ibérica.
" Não há no mundo alguém como eu
Enquanto segue a vida
Morro de amores por ti, ai !
Minha alva senhora , de pele rosada
Quereis que vos retrate
Quando a vi sem o manto
Maldito seja o dia em que me levantei
Então não vos vi feia !
E desde aquele dia, minha senhora,ai !
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece vos bem
Que me presenteie com uma guarvaia (manto rico ,vermelho)
Pois eu, minha senhora ,como presente
Nunca de vos recebeu algo,
Mesmo que de ínfimo valor".
As cantigas podiam ser de amor, de amigo ou maldizer, neste caso a Literatura classifica a "Cantiga da Ribeirinha " como cantiga de amor. As de amigo , na verdade eram de amores ocultos, a palavra "amigo" tinha um outro sentido, para que o mensagem não ficasse tão desprotegida.
Do Século XIII, já há um bom número de cantigas e textos no idioma português , guardados na Torre do Tombo, onde os guardiões (emprego vitalício), se empenhavam em guardá-los ordenadamente. Não pensem, no entanto que os guardiões eram tão "legais " assim, alguns maquiaram a história para agradar seus soberanos, mas teve um que merece o nosso respeito; Eanes de Azurara , cronista oficial por vinte anos ( Séc XV)...qualquer dia escreverei sobre os guardiões.