TEMER POESIA

Escrever é expor-se. / Revelar sua capacidade / Ou incapacidade / E sua intimidade / nas linhas e entrelinhas / Não teria sido mais útil silenciar? Deixar que saibam-te pelo que parece que és? Que desejo é este que te leva a desnudar-te? A desmascarar-te? Que compulsão é esta? / O que buscas? Será a incapacidade de fazer coisas úteis? / Mais objetivas? / É por isso que /procuras o subjetivo? / Para quem a tua mensagem? / Para ti? / Para outrem? / Não sei. / Mais uma que faço sem saber por quê. / Michel Temer, in Anônima Intimidade

O poema acima, bastante descritivo de um pensamento recorrente em literatura, chegou-me pelo Facebook, numa publicação de Nina Isnardi e que foi comentado, no local, pelo irmão escritor Joaquim Moncks. Entrei lá, no mesmo espaço dos comentários, seguindo este primeiro comentarista, para dar um pequeno parecer do que penso. Não entrei disposto a escrever mais do que umas três linhas, mas o tema tocou-me profundamente e não tive como conter a necessidade de uma explanação maior e dizer que a metapoesia é sempre instigante e, ao mesmo tempo fascinante para quem a lê com o sentido de estudar, por exemplo, para quem é poeta, que aprecia sempre estar ao par de estudos e fazer este acompanhamento. Mais ainda para quem anda em busca de caminhos nestas áreas, sendo aquele leitor que é aspirante, ainda não se tendo realizado.

Este poema é uma indagação, numa visão extremissimamente pessoal do seu autor, que apresenta a ideia como que a falar de intimismo - assim o entendi - e do quanto talvez seja preciso ou não calar-se diante desta característica dos autores. Assimilei como autores de poesia e prosa, pois em ambas pode existir ou não o intimismo revelador, sobre o qual o autor pergunta se seria melhor calar-se.

Nesta linha de abordagem abre-se um leque que enseja múltiplas interpretações. Escritores de prosa ficcional, digamos assim mais prontos, podem, um pouco, revelar-se neste gênero, mas a tendência é viajar e afastar-se. Do vôo de si para a universalidade não precisa nem fazer “check in” e tudo é válido, direto ao infinito da inspiração. Na poesia é até redundante falar em ficção, porque, mais que a metáfora, a ficção é elementar na arte poética.

Iniciei falando aqui em metapoesia, mas a matéria escrita abordada é inclassificável como poesia, porque não possui os mínimos requisitos para tal. Então pensei em dizer de melhor forma: metapoema. Não me satisfiz e fui além para prosa empilhada, como se diz vulgarmente. A compulsão de escrever, sem uma visão e/ou capacidade de universalizar, do tipo "chorumelas", talvez seja a preocupação do autor e seu medo de desnudar-se, que, por isso, encontraria melhor caminho em calar?

Ele parece relatar que escrever é dizer do que vivenciamos, dentro daquela definição antiga e vastamente conhecida de que temos que passar pelas experiências para poder contá-las. Nisto eu tenho as minhas dúvidas, pois na ficção eu viajo além de tudo que sei, conheço vivenciei ou vi, rumo a uma imaginação que pode até chegar à insanidade. Este é meu entendimento. e sempre digo: não me julguem pelos meus escritos.

O texto de Michel Temer é bastante primitivo, em indagação, que já está mais do que respondida por quem escreve, hoje em dia, parecendo ter sido escrito por quem não tem asas para voar além do seu conhecimento e tem medo de parecer piegas ou ridículo. No discorrer do autor o texto sugere e entendemos do modo como possamos entender, que vale ou não para poesia, prosa, conto, romance, etc., em maior ou menor grau, desde que, nesses gêneros, o autor se revele ou dê a entender que é ele, em parte ou no todo, e não os personagens que estão ali.

Serve como boa instigação à reflexão – e eu gosto disso – porque fornece-me matéria para estudos.

Na vida política, o Temer não é tão indeciso e perguntador. É mais prático e fala pouco, fazendo muito, é mais pragmático, embora discreto em revelar-se. Talvez comparando o poeta e o político, entendamos por que esta insegurança de perguntar, no poema, já que na vida ele faz acontecer. Ou será que, na política ele consegue achegar-se mais à metáfora e plantar mais ficção do que no aludido poema, sendo que, nesta segunda, com maior propriedade. (Luciana Carrero, produtora cultural, reg. 3523 - SEDAC/RS)