O COMPROMETIMENTO ESTÉTICO

Já percebeste que terás de inserir uma mais funda linguagem codificada (sentido conotativo da linguagem) e com maior utilização de figuras de estilo ou linguagem, especialmente as metáforas? Porque sem estas, no poema, dificilmente se caracterizará a Poesia como gênero. Esta não vive sozinha, sendo que é no poema, ou seja, a sua MATERIALIDADE que retratará se estamos frente a um poema com Poesia ou sem Poesia, mesmo que com doçura, afeto, linguagem aparentemente incomum. O derramamento verbal, ainda que contenha doçura (que é o que usualmente temos na internet) não chegará nunca a ser um poema, e, sim, apenas o embrião que a "inspiração" intuitiva delineia e apresenta por diletantismo e não por comprometimento estético para com a arte. E nem se diga que este olhar deve ficar reservado ao analista crítico. É o poeta/autor que conceberá o poema, segundo a sua singular linguagem. Portanto, deve dialogar com ele permanentemente... O crítico até poderá ajudar no burilamento estético do poema – que o fará melhor ou pior segundo os cânones estéticos dominantes num momento dado. Todavia, quem lhe faz assente a vida no mundo da farsa e da fantasia, tornando-o veraz e belo é a assinatura de seu autor, mesmo que ele tenha apenas a sua posse e não a propriedade, que atende aos largos princípios dos domínios da humanidade. Se não se conseguir visualizar isto, a arte eterna tripudia sobre a sua teleologia. A arte é dos domínios do ser e não do ter... Mesmo que se possa usufruir com a sua materialidade, algum “valor de uso”, a que Marx se refere em seu reiterado pensar filosófico. Afinal, todo trabalho espera remuneração...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015/16.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/5560095