Ler é existir dentro de alguém em recíproca possessão
Olhar atento às pistas, investigação dos sentidos implícitos, análise dos marcadores de pressuposição (sim, análise morfossintática serve para interpretar), atenção aos modalizadores, aos ilocutórios e perlocutórios, avaliação dos recursos estilísticos e lexicais, confronto de opiniões e pontos de vista, elucidação do proprio entendimento. Ler é isso e um pouco mais, propositalmente no infinitivo: bater na mesa com a descoberta, perder o olhar buscando o conhecimento, fazer uso de todas as interjeições, morder os lábios de ansiedade, ir para longe sem sair do lugar, ficar aborrecida com fraqueza do corpo, deitar-se recordando de tudo...e viciar-se, agoniar-se, impelida ao frisson obsessivo compulsivo de descobrir ( do lat. discooperio: "tirar a cobertura")... Preponderantemente, ler é mergulhar nas "profundezas" do pensamento do Outro. Aí é que reside a beleza da pesquisa bibliográfica: A possibilidade de ler pensamento(s), inclusive daqueles que um dia existidos no organismo universal, biologicamente já deixaram de pensar... É compreender o jogo da formação ideológica manifesta no discurso... E assim, um texto superficialmente simples, revela-se como um oceano profundo da psique humana, somente aos que estão dispostos a correr os riscos do mergulho. Ler é um super poder... perigoso, fino e absolutamente fascinante. Realmente (desconfiando do que seja esse "real"), há muito mais mistérios entre uma linha e outra do que suponha nossa vã percepção. Por hora é isso: ler é existir dentro de alguém em recíproca possessão.