O POEMA É SEMPRE UMA SURPRESA

O espécime poético obedece às mesmas etapas conceptuais do texto em prosa: introdução, desenvolvimento e fecho, exceto o exemplar surrealista. Muitas vezes o poeta não consegue fazer valer uma melhor concepção metafórica no itinerário emocional e intelectivo das duas primeiras etapas em curso – porque a ideia ora briga com o formato, ora os signos verbais que nasceram para expressar a Poesia dentro do poema (e poderão vir a compô-lo ou não, porque não bastam as ideias, e, sim, os vocábulos que dirão do seu pensar) não se entendem bem ou ao autor que já adquiriu critérios estéticos, saindo do egocentrismo, parecem-lhe inexpressivos ou rarefeitos. No entanto, em algumas vezes, as ideias em ebulição no cadinho fervente do pensamento chegam a um bom resultado, no final da peça poética, cujo efeito plástico redimensiona todo o exposto anteriormente, a tal ponto que dois ou três versos podem subsistir autonomamente, formando uma nova peça plena de beleza e viço. Enfim, um exemplar que vinha deixando a desejar esteticamente pode ter um final muito bem urdido, polimetaforizado. Também pode ocorrer que este seja o poema (ou poemeto) que poeta-autor tentava buscar, sensitivamente. Destarte, quando exigente de seu ato de criação, e conhecedor do ofício, nem sempre ele – o criador – dá-se por satisfeito. Também nem sempre o percebe como peça autonômica, se não estiver disposto a reconhecer a sua própria criação como um mero elemento experimental. E é muito bom e útil quando o criador briga com a criatura recém-nata. Desafia-se à “transpiração” para chegar ao melhor formato estético. Porque Beleza não é somente forma ou formato, e, sim, conteúdo codificado que leva a vários caminhos, força da sugestão ínsita à peça poética e que subverte o sentido original das palavras, dando ao poema originalidade, roupagem e conteúdo.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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