João 1:1-4

«No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.»

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"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens."

O Livro (recordemos: biblos é livro, em latim) começa dizendo que é tudo ficção "no princípio era o verbo", a língua, a narração. Deus cria o mundo. "E a palavra era o próprio Deus", ou seja, a língua cria mundos, é só notar que deus sempre Fala, mas nunca se mexe, a língua diz e faz acontecer, cria, destrói, reconstrói, é mágica, é o próprio deus. "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez". Mais uma vez a insistência do mundo narrativo como criação real, tanto quanto "o homem só sabe aquilo que nomeia". Vivemos na língua, atravessados por ela (ela já existe quando nascemos e já é uma língua específica, não escolhemos, tampouco temos uma língua universal anterior, para só depois escolhermos uma particular). Ela nos atravessa e nos forma e nela nos formamos. Quando falamos nos assujeitamos, mobilizamos todo o aparato linguístico correndo o risco que isso traz (basta ver legalmente, podemos ser acusados pelo que falamos, a palavra significa muito, é um ato de responsabilidade). É tão criadora de mundos que veja-se Harry Potter, veja-se os autistas, etc. O poder de contar histórias. Uma história que alterou os seguintes 2500 anos do mundo ocidental. O Livro começa, portanto, sob o duplo signo da língua: é ficção, é narração, estória; mas é também a língua que faz o mundo e nos faz, é nela que vivemos, é com ela que pensamos, ela é (faz) o mundo.