A paixão e o amor.
"Éramos dois loucos apaixonados.
Bastava que um olhasse para o outro e uma onda de atrito nos tomava. A gente não tinha hora pra começar e nem terminar a sintonia dos amantes. Rolávamos, nos perdíamos de toda forma e nos achávamos, mesmo que um estivesse mais distante do outro.Mas, nunca nos perdemos.
Bastava o sol nascer que o coração disparava.Era o encontro. Ou o o reencontro. Sei lá! Sei dizer bem não! Acho que nunca nos descolávamos. Era uma telepatia constante, um amor desenfreado, sem eira , nem beira.Sem escrúpulos, apenas era amor.
Éramos dois perdidos numa única noite e num só dia, não tínhamos endereço, compartilhávamos do mesmo código postal.
Era um enlace , como se fosse eterno.Era um casamento de almas, parecia que tínhamos nascido do mesmo ventre, mas com genes diferentes.Não éramos irmãos de corpos, mas sim de coração.
Acho que nossas batidas sempre foram descompassadas, mas eram contadas uma a uma como se fosse apenas "única".
Nos amávamos e não pensavámos que aquela linha que tínhamos riscado juntos, algum dia poderia se apagar.Não.
Não pensávamos em nada.O mundo era nosso. Definitivamente! E acordávamos e dormíamos comungando da mesma água, do mesmo vinho, do mesmo suor, do mesmo furor. Sim. Era amor!
Sentíamos febre em dia de frio, o calor nos tomava mesmo no inverno mais gélido. Não era preciso cobertor .
Dominávamos a geada, como se aquilo fosse uma labareda acesa e permanente.
Fomos felizes. Fomos? Por que fomos? Ora, porque "fomos".
O amor , muitas vezes me deixa a conclusão de que é um pote se sorvete que olhamos, nos deliramos, sorvemos e depois queremos um outro sabor, mesmo repetindo milhares de vezes o mesmo.
É o desgaste da sintonia, as coisas começam a tomar rumos e deles a febre, o fogo, o calor, a vibração, o fervor, dão lugar ao alívio, ao gozo, ao estio.
Acabam
-se sim relacionamentos.Por mais bombásticos que sejam, eles podem explodir um dia e não sobrar uma só partícula.
Mas...quem sabe isso acontece porque é a paixão que tomou o amor. Paixão é como criança em festa. Ganhou o primeiro pedaço de bolo e depois que comeu, só vai se lembrar dos presentes. E por isso eu digo: Não é amor um sentimento que se gasta.
É paixão!
Quizera que todo sentimento fosse um eterno continuar.Sempre, sempre.Sem mágoas, sem perdões não dados e nem merecidos, sem que se acabasse o frisson.
Frisson.Eis a palavra sagrada!
Mas, será que teria tanta graça se esta coisa eterna durasse pra sempre, mas sem a labareda e apenas o companheirismo?
Valeria a pena viver só de recordações?
Não sei. Só acredito que a "out", o "own", o" uhuu" da vida e do amor esteja em encontros e que depois dos desencontros nos abrem nossas portas.
Quando um amor acaba, vitimado pela paixão, abre-se novos lugares onde o coração se esvaziou.
É preciso aceitar que na dança do amor, um dos dois será o último a apagar a lareira.
E o primeiro a bater a porta de saída".
(Denise Lessa)