Cultura Como Forma de Vida
"Ampliar o debate sobre o descaso das sociedade com a cultura não é só perda de tempo, mas um estigma a nossa construção artística".
As possibilidades de unificar nossas verdades surgem das inverdades, possibilidades, sonhos que movem poucos, para quem sabe um dia chegar a muitos.
Construímos nossas diferenças com a força de essências que perfumam nosso espírito afim de exalar as lutas onde nosso interior silenciam, expõe-se lavouras do destino buscando em diferenças, estereótipos, a unificação dos sentidos.
Toda construção é feita de trabalho, seja ela intelectual (através do estudo), braçal (através da força), conceitual (através de técnicas), mesmo assim temos que saber o porquê da iniciativa dessa coragem?
O que te motiva a tomar iniciativa? Vontade, amor próprio, ou revolta? Quem te inspira a buscar por si a satisfação de outros? Convém fazer conveniência ou diferença? Você busca solução ou constrangimento? Estamos falando de cultura ou de arte? Ao mesmo tempo que tudo anda junto, tudo também anda sozinho, diferenciar o que fazer deve ser os primeiro estímulo para fazer cultura.
Eu poderia ter aberto o Wikipédia e ter colado a origem da palavra "CULTURA" que vem do latim, que juntamente com qualquer outra palavra grega, também virá do latim. Mas pelo contrário resolvi escrever isto horas antes desse debate, até porque não faço parte de mediações, bancas, juris, me ápice e pico de pensamento se constituí quando entro em ação.
As minhas perguntas devem pertencer a você, porque a mim perturbam, eu poderia ter buscado números pra mostrar em quantos por centos essa merda toda nunca muda, e que esses números são porra nenhuma comparado a minha, a sua, e a realidade deles.
Somos provedores, pesquisadores, anunciamos os corres, as propostas, suspeitamos mais que as tais hipóteses, manifestamos o espírito voluntário, repetimos a música de "Cazuza" (eu preciso dizer que eu te amo) não sei quantas vezes, pois não temos medo de realmente dizer, explodir, eclodir a mudança, sem buscar solução vamos remediando todas expectativas que de alguma maneira quer nos restringir....
_ Mas para isso eu digo: "Baby compra o jornal".
A solução é uma busca dos fortes e dos fracos, a solução é uma realização que confunde aqueles que nunca acreditam no crescimento de seus próximos, pois a solução que foi dada aos fracos chama-se: _ Inveja!
Desde já temos que tencionar o favorecimento de me fazer o favor de não puxar a sardinha de ninguém, tampouco cuspir pra cima, é preciso compreender que o passado fique para o passado, e o trabalho duro no presente para o futuro; entendeu? _ Não neh? Essa história de passado, presente e futuro sempre confunde... Aqueles que não respeitam movimentos desconhecem povos, subestima os que parecem fracos, chegam a desconfiar dos próprios céticos, só pra mostrar que suas mãos estão cheias de inveja!
_ Compliquei muito mais o assunto neh? Mas para que entendimento se estamos filosofando cultura? Ou você é como eu, mais um pobre, periférico, favelado, classe D, C, trabalhador nato do tal terceiro setor, sou assim mesmo, nunca conclusivo e sempre obstinado, gosto de atirar, mas prefiro ser alvo.
O que contradiz é... Saberemos nós até quando o que estamos fazendo? Até quando iremos suportar essa historicidade de influências, essa força de rito, que obriga cultura ser arte e arte ser cultura?
Sabemos que a arte não é mais um bem comum restrito a um grupo ou tipos que se dizem da sociedade, (tô falando deles mesmo, os burgueses, a elite), mas devemos saber meus caros; que cultura é diferente!
Trabalhei três anos longos e duros no CICAS, (Centro Independente de Cultura Alternativa e Social), aí você que não sabe quem sou, de onde venho, deve se perguntar: _ Que merda é essa? Que porra é isso? Anos dos quais meu corpo nada sentiu, e a mente muito evoluiu, pois a vontade move mais que seres e montanhas, ela move sonhos. Ganhei muitos amigos, conhecidos, pessoas que briguei por causa dessa bendita causa, causei rancor, ódio, e principalmente o amor, inspirei e fui inspirado, planejamos tantos planos, roubamos material de construção para construir um palco, coloquei fogo em (nóias) "moradores de rua que ocupavam o espaço" e como um Lampião doido, desembainhei uma pexêra de 12 polegadas e gritava pra uns 20 viviam perturbando no espaço fumando crack, qual deles viria me atormentar, fui louco, maluco, corajoso, pois tive que brigar sempre pela sobrevivência, pelos ideais, pelas minhas filosofias, e principalmente, pelo meu povo que sempre foi excluído, espancado, humilhado, pisoteado por uma sociedade com costumes burgueses hipócritas e preconceituosa, muitos de meus amigos nunca entenderam até hoje o porque daquele meu ato de violência, mas cultura é isso, é bravura, é um dom que você tem que lustrar com sangue se possível para mantê-lo intacto e longe de intrusões sem respeito nenhuma pelo que você faz. É triste demais você pensar assim, mas o mundo de onde venho é bem naquele ditado "quem dá sangue, vai receber sangue", eu e meus amigos suportamos juntos e separados o que só nosso coração consegue sentir, explicar, exprimir, passar aos camaradas inexperientes e experientes, ou os que se dizem sem cultura nenhuma, mais que tem muita cultura, que teremos que lutar mesmo não só por nossos direitos, mas por nossos respeitos.
De arte nada entendo, pouco vejo, admiro e respeito, e lembro que certo dia desses chorei muito ao ouvir uma música que muito tocava no
Jardim Brasil:
Favela óóh, favela que me viu nascer,
Eu abro meu peito e canto amor por você,
Favela óóh, favela que me viu nascer,
Só quem te conhece por dentro,
Pode te entender.
Um povo que sobe a ladeira, ajuda a fazer mutirão,
Divide a sobra da feira e reparte o pão, reparte o pão...
Como é que essa gente tão boa,
É vista como marginal,
Eu acho que a sociedade tá enxergando mal.
Favela óóh, favela que me viu nascer,
Eu abro meu peito e canto amor por você,
Favela óóh, favela que me viu nascer,
Só quem te conhece por dentro,
Pode te entender.
Entendo esse mundo complexo,
Favela é minha raiz,
Sem rumo, sem tino, sem nexo, e ainda feliz.
Nem sempre a maldade humana,
Está em quem porta um fuzil,
Tem gente de terno e gravata matando o Brasil.
Minha favelaaaa....
Favela óóh, favela que me viu nascer,
Eu abro meu peito e canto amor por você,
Favela óóh, favela que me viu nascer,
Só quem te conhece por dentro,
Pode te entender.
"Música: Favela"
Exaltasamba, Racionais MC'S e Rappin Hood
Agora como falar de cultura no litoral? Onde tudo é belo? Onde os playba e as patricinhas desfilam seus carrões e tantas outras exuberâncias? Onde camufla-se o sofrimento, onde as pessoas vivem seu âmago pisando nos humildes, onde ser pessoa humilde é ser otário, onde humildade é mato.
Mesmo assim eu sou a voz da periferia! Nessa porra de mundo belo! Onde todo mundo tem tudo e não reparte porra nenhuma! Onde os pilantras são capazes de comer pó de vidro só pra rasgar o pau do próximo... "Vão todos cagar na praia e limpar o rabo com areia!"
Cultura defasada no sul do Brasil.... Um hediondíssimo recanto desse país, de ritos e colônias que vivem em silêncio mostrando suas festinhas anuais para mostrar cultura, depois guarda-se para pegar pó, poeira, e limpar novamente no ano seguinte, onde o que era pra ser a nossa cultura popular, transformou-se em internacional, padronizado, em um país onde não deveríamos nunca esquecer as etnias indígenas e africanas.
Vivo no município de Imbituba, com aproximados 40.000 habitantes diz o senso, e próximo a cidade de Garopaba com 20.000 habitantes, cidades essas que na sua lata temporada de verão triplica a sua população devido a turistas e veranistas, mas a cultura, é a mesma, pequena, metódica, silenciosa, invisível aos olhos dos moradores e visitantes...
_ Quer dizer, sair de uma metrópole pra fazer cultura popular em meio dessa adversidade é colocar um alvo nas costas e pedir pra morrer!
O monoteísmo, primitivismo e concordância com a realidade vivida há tempos fortalece a ideia de que como diz meu amigo e rapper "Rynkon" (nada mudou!), nada vai mudar, nunca vai mudar, porque a ideia local é a de que se já vivemos assim, porque mudar? Para que mudar mesmo, se tá ruim, mas tá bom...
Atrasei minha corrida social por quase três anos, e um novo ar começa a expirar em meu corpo, os pensamentos estão voltando, a indignação, a vontade de não colocar a mão na massa mas enfiar o corpo nessa areia movediça, e são poucas as cabeças que estou conhecendo, algumas que não pensam iguais, mas nas diferenças expomos de maneira quase iguais, por estarmos apoiados plenamente nas diferenças...
_ Só que a cultura social que desenvolvo é guerra. É transtorno, e o que incomoda, é a ação. Será que estamos, ou estaremos prontos? Eu tô mano! Meu peito já tomou umas rajadas que me dizem para seguir em frente, encarar as balas, os tiroteios, os que se dizer a favor e os que serão contra. Mas a ideia é essa, incomodar em quando der, puder, suportar.
Entendeu? Não neh? _ No sul do Brasil, é assim, as pessoas fazem questão de estar unidas separadamente, mas estão no fundo cuidando de seu ego, interesse próprio, lustrando o umbigo, arrotando chuleta e cuspindo para quem vem roer os ossos.
Não é fato isolado quando li no livro de Euclides da Cunha, "Os Sertões", mais ou menos um século atrás escrito, que ele esquadrinhou o "cavaleiro dos pampas" e o do "sertão", do dos pampas com seu chimarrão, bombachas, camisas largas, botas, dizendo este ser hábil por correr em grandes vales... E o mesmo cita o nordestino percorrendo as caatingas, em meio ao terreno adverso, com galhos de espinhos por todos lados, sobrevivente da seca, com sua roupa de couro que mais parece uma armadura, sendo este citado por ele, o verdadeiro hábil, corajoso, e sofrendo preconceito por ser pobre.
Sabe onde quero chegar com isso? Com esse conceito que Euclides da cunhas me expôs? É a de que... _ CULTURA É PRA POBRE!!!!! Quem luta pela cultura e valorização das comunidades são os pobres! Não é esse bando de almofadinha que faz faculdade e projeto social pra conhecer a vida do pobre! Citar os pobres em seus encontros, palestras, debates... Pois esses filhos da puta nunca fizeram porra nenhuma pra realidade mudar, além de se fecharem e querer construir um país dentro de nosso país.
Imbituba e Garopaba nada tem haver com minha indignação. Isso não é uma afirmação. É um pensamento, uma crítica construtiva, para se pensar, parar pra pensar... Eu represento sempre o lugar em que vivo, eu represento o povo da periferia, o indígena que é minha raça, o nordestino, o negro, e todos imigrantes que aqui firmaram sua história com respeito, honra, e muito trabalho, só que o povo que construí Brasília, São Paulo, e agora constrói as arenas e avenidas no sul Brasil para esta palhaçada de copa, somos nós, os pobres.
A cultura em minha cidade está quase morta! Quer dizer, morta-viva. São poucos os que se lutam para se unir, esquecer essa merda de ego e tentar fazer algo de bom para a cidade, já que a vejo como comunidade que falta dar as mãos, unir-se, valorizar suas histórias, apresentar-se aos moradores sem apoiar-se na beleza de um turismo explorador e que de uma forma ou outra só atraí o que não presta.
Isto não é revolta. É pensamento de mudança, e a realidade. Aqui falamos, exploramos o sentido, e suporto as críticas, isto não é um preconceito, conceito, palavras armadas para te fazer ficar com indignação de sim, mas para trazer um pensamento de que podemos sim mudar, podemos sim fazer diferente, podemos sim escrever e estudar as nossas histórias, por mais que elas sejam de outros povos, ainda somos brasileiros não? E onde tá o Brasil nisso? Aqui falamos da pobreza, da miséria, que me parece ser intelectual, do valor que cada pessoa tem na sua caminhada, talvez seja isto que está faltando, simplicidade, escutar o coração, racionalizar o pensamento, ver que a cultura não é arte, mas sim a valorização de um povo, e não só de outros povos, mas do nosso povo.
_ É preciso fazer outros estudos saca? A imigração aconteceu e faz tempo... Depois disso nada mais se criou? Se cultivou? Ou será que vocês adormeceram sobre um sol de verão...
Mas quem sou eu pra falar, Será que uma pessoa cheia de sonhos muda alguma coisa?
_ Lá sim, aqui não!
Mesmo assim, passo dia após dia vendo as causas de Deus me fazer viver aqui, ele tem alguma batalha, e sabe que vai precisar de um soldado na linha de frente, que estuda os campos, percorre e observa os flancos, vê sobre os outeiros, e conhece as artimanhas, fraquezas, ideologias de um povo.
Gosto que de certo modo me vejam inerte, que desconfiem de minhas capacidades, "já que desconfiam de tudo", que riam e façam piadas quando digo que tenho habilidades, que pensem em seu maldito âmago que sou mais um maldito nordestino cabeça chata, sem estudo, que sempre me perguntam:
_ O que tu veio fazer aqui? Tu tens família? Tu vem de onde? Tu trabalhas? E tu, e tu, e tu...
Esses porras não imaginam....
_ Que eu vim pra fazer a revolução!
Humberto Fonseca