MUDANÇAS, SEMPRE ELAS...

Quem pensa e diz o que pensa – por escrito, especialmente – atua como antítese, segundo a concepção de Hans Hegel. Funcionará como provocador, para que o leitor amealhe a novidade e o bem eventualmente nela contido seja visto intelectivamente – vale dizer, consumido. E se for o caso poderá, por força de seus argumentos, vir a modificar o que o leitor pensava anteriormente. Quando alguém lê uma peça textual que o instigue profundamente, nunca mais terá idêntica concepção sobre aquele assunto, porque o seu pensar – a sua cuca beneficiada – restou acrescida da dúvida benfazeja, geradora de possíveis ações antitéticas, até formar-se novamente a síntese do (seu) pensamento sobre a temática havida. A reflexão proposta pelo que se apregoou é a mais importante funcionalidade da literatura ficcional, tanto na prosa quanto no verso. Esteticamente, o Belo sempre tem o seu lado escuro, que é o outro polo do concepto em voga. Por esta razão, a análise crítica tem de ser sempre muito bem-vinda, mercê de sua carga dialética: é através dela que poderemos vir a crescer na temática em discussão. Se ela não se fizer presente, e nada ocorrer em termos de acréscimo ao pensar do receptor, o escrito não cumpriu a sua teleologia: era vazio, nada continha de novidade, e o mundo sensitivo continuará o mesmo, com os seus valores convencionais e estáticos. Ainda que não se atribua função objetiva à arte de escrever. Ou se entenda que a Arte, em geral, não tem o propósito finalístico de interferir no plano da realidade. Talvez seja por todo este processo que se instaura na mente do leitor que é tão popular o preceito que “da discussão nasce a luz”. Que venha a Senhora Leitura, com toda a sua carga de novidades. É bom lembrar que o Novo está nas entrelinhas...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2014/15.

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