SILEPSE OU CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA
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Figuras de Linguagem
Silepse é a figura de construção em que a concordância não é feita segundo a forma gramatical, e sim, pela ideia, pelo sentido (subentendido) que a palavra expressa encerra; por isso essa figura é também chamada de concordância ideológica:
ü Os brasileiros somos improvisadores.
• Observe que o verbo não está concordando com [os brasileiros], o sujeito expresso, mas sim com [nós] (os brasileiros), o sujeito subentendido.
A silepse pode dar-se no gênero, no número ou na pessoa:
1. Silepse de Número – O caso mais comum dessa silepse é quando o sujeito é um coletivo e o verbo (ou o adjetivo) passa a concordar no plural. Gramaticalmente o verbo deveria concordar no singular, pois o coletivo é de número singular, embora dê a ideia de quantidade. No entanto, o verbo pode ir ao plural, por silepse, desde que esteja distanciado do sujeito:
ü O público chegou muito cedo. Como o sol era forte e o calor, intenso, começaram a pedir aos bombeiros que jogassem água.
• Note que o sujeito dos dois períodos é o substantivo "público", singular com ideia de plural. No primeiro período o verbo está no singular, concordando com o sujeito expresso, como manda a norma gramatical. No período seguinte, o verbo passou para o plural: (o público) começaram... Agora, a concordância é feita com a ideia subentendida na palavra publico: [as pessoas]. Ou seja, o verbo passou a concordar com essa ideia e não com público. O distanciamento causa a consequente perda de força da palavra público.
ü Esta gente está furiosa e com medo; por consequência, capazes de tudo. (Garrett)
• Neste exemplo a concordância por silepse é feita pelo adjetivo, já que o verbo não se encontra distanciado do sujeito e com ele concorda no singular. A palavra "gente" pertence ao gênero feminino e, gramaticalmente, é singular; mas como contém uma ideia plural, [pessoas], o adjetivo "capazes" passa a concordar com essa ideia, e não com a palavra singular "gente".
ü Os Lusíadas glorificou nossa literatura.
• A concordância siléptica é feita segundo a ideia subentendida em Os Lusíadas, de [obra, livro]: A obra, Os Lusíadas, glorificou nossa literatura.
Outra forma de silepse de número ocorre quando se utiliza o chamado plural de modéstia, em que a pessoa que fala ou escreve refere-se a si mesma como [nós]. É muito frequente nas narrativas em primeira pessoa para evitar o uso repetitivo da primeira pessoa do singular. Nesse caso, o adjetivo referente ao falante aparece no singular: Os professores esperamos condições dignas de trabalho.
ü Fomos muito aplaudido pela crítica.
• No primeiro exemplo o verbo está concordando silepticamente com [nós] (os professores). No segundo, o adjetivo que deveria estar no plural, figura no singular porque se trata de uma só pessoa e não duas ou mais.
2. Silepse de Gênero – ocorre quando se troca o masculino pelo feminino ou vice-versa:
ü Vossa Excelência está enganado.
• Neste exemplo usou-se o adjetivo no masculino porque se fez a concordância com a ideia que se tem em mente: Vossa Excelência é uma pessoa do sexo masculino.
ü São Paulo continua fria (fem.). (concordância com a ideia: A cidade de...).
ü A gente (fem.) é obrigado (masc.) a varrer até cair morto (masc.).
3. Silepse de Pessoa - ocorre quando o sujeito expresso aparece na terceira pessoa e o verbo na 1ª pessoa do plural:
ü Os brasileiros somos improvisadores.
• Sujeito na terceira pessoa e o verbo na 1ª pessoa do plural. A concordância gramatical seria: Nós, os brasileiros, somos improvisadores.
Na língua coloquial, é comum a silepse com a forma [a gente]:
ü A gente somos inútil. (Ultraje a Rigor)
• Observe que temos dois casos de concordância: silepse de pessoa (a gente = nós), e "inútil" concordando gramaticalmente com "a gente". É um caso de concordância alternada. No padrão, culto essa construção é inaceitável. ®Sérgio.
Tópico Relacionado: Concordância Ideologia ou Figurada. (link)
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Algumas informações foram retiradas e adaptadas ao texto de: Cipro Neto, Pasquale, Gramática da Língua Portuguesa – São Paulo; Scipione, 1996.
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