ETAPAS DA CRIAÇÃO POÉTICA

O “fazer poético” não consiste – especificamente – de uma abordagem filosófica, genérica, que nasce da percepção dos fatos e de sua avaliação, como é o caso do processo individual de agregar conhecimentos de todo o gênero, simplesmente por estar-se vivo. Neste caso, a pessoa acumula os saberes diuturnamente, com pouca reflexão e esforço: é a chamada escola da vida. O FAZER POÉTICO é esforço de pensamento muito além de conceber de dentro para fora como parte do processo intuitivo, no qual prepondera a espontaneidade – o talento criativo. Note-se que é particular e diferenciado do instante mágico da criação, que se manifesta pela INSPIRAÇÃO – originário e anterior – no qual que prepondera a emoção. Este é o primeiro momento – oriundo e assentado na intuição – que bate asas tão rápido como um beija-flor pairando no ar. Diz respeito à especificidade do criar, em arte poética. Refiro-me ao segundo momento de criação – A TRANSPIRAÇÃO – que é a ação artesanal, o cinzelar da peça, na qual prevalece a intelecção, dando-lhe formato definitivo. No entanto, pelo pensar egoico e individualista da possessão no ato do criar literário, expressiva maioria dos autores sequer cogita da fazer a ação de revisão, talvez pelo medo de desvirtuar a ideia original, especialmente no lírico-amoroso, quando relata suas experiências na vida factual, na qual pretende um final feliz dentro da peça poética. Caso cumpridas as duas etapas citadas, o resultado é invariavelmente melhor do que aquele que não atende a este processo autoral. A palavra poética é sempre pássaro (nunca camisa-de-força), mesmo que a cuca dos verdadeiros poetas corra à margem do lugar comum da vida e os seus comportados pensares e agires. Louvemos a “loucura”, que é a mãe do belo e do inusitado que nos faz pensar. Afinal, é o leitor que vai fazer a trazida dos conceitos emitidos no poema para o universo pessoal. E este refaz o mundo de si para si. Nem sempre se repete no receptor a proposta original do autor. O poema convive com os desejos insatisfeitos... O poema voa sozinho, e vive por si, à revelia da concepção autoral.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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