DA EMOÇÃO E DA RAZÃO

Especialmente no plano lírico-afetivo, tudo o que escrevemos exsurge de um sentir, um pulsar de forças que possui uma ideação subjacente. É seta ajustada ao arco do confidencialismo, do intimismo individuado. Este pensamento (original e pessoalíssimo) acaba se manifestando através da articulação vocabular e fraseal, fruto do momento da inspiração ou espontaneidade, e neste, pouco influi a razão: o fluir no cadinho do criar é dos domínios da emoção, especialmente em Poética. No entanto, para que cheguemos a um bom exemplar estético, é necessária a participação da ideação racional, a que chamamos "transpiração", e é esta ação que dá forma definitiva ao poema ou à prosa poética. Portanto, entendo que o ato de criação tem dois instantes: o da inspiração, e outro, posterior, o da transpiração. Como a maioria dos autores são inquietos, ansiosos e apressados por personalidade, e querem o poema "saindo do forno já pronto", executam somente o primeiro momento da criação. Deixam, portanto, de fazer o segundo ato, em que prevalece o racional. Por esta razão é que a maioria dos poemas e prosas poéticas nascidos das cabeças de iniciantes na arte de escrever é esteticamente imperfeita, deixando a desejar em seus conteúdos e temáticas. Este aprendizado leva, no mínimo, nove anos, sugere Horácio, o príncipe dos poetas latinos, ao tempo de Cristo. Na modalidade Prosa, em suas espécies conto, crônica, novela, romance, memorialismo, historiografia, e mesmo na dramaturgia, ainda é mais preponderante a ação racional na urdidura do texto.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/5072503