Uni_Verso

A arte poética nos faz ver o mundo de ponta-cabeça, com várias ramificações e de feitio avesso ao que é normal e usual para os anormais. Através dela, as palavras de um modo geral, ganham novos significados à medida em que vamos lendo, relendo e observando as imagens que são criadas dentro de um contexto plural, sejam elas cotidianas ou insanas. Assim, cada um de nós vê e percebe as sensações que elas provocam dentro do nosso ente literário. Com tudo isto às mãos, podemos verificar que não é necessário se ter um dicionário dantesco de palavras complexas para se fazer um poema delicado e às vezes apaixonante.

O Uni_Verso é uma nova proposta de escrita. Consiste em se compor poemas com um único verso e, se possível, com o menor número de sílabas poéticas, que levem os leitores a múltiplas contemplações da realidade de cada um de nós. É algo surreal, abstrato e ao mesmo tempo palpável. Além de ser concreto e decifrável. Toda esta i_rracionalidade advém da logística que a escrita nos proporciona ao ser confrontada com os nossos sentimentos mais profundos e agudos.

É preciso que se dê nome ao texto para que ele tenha uma identidade e não se perca no emaranhado das coisas mal resolvidas, inúteis e inacabadas. É importante que ele tenha uma certidão de nascimento, com o nome do pai ou da mãe, ou até mesmo dos dois em conjunto. É verdade que uns nascerão defeituosos mas poderão, com o passar do tempo, serem corrigidos e educados através das críticas que sofrerem no decorrer de suas vidas enquanto arte mutante. E como não poderia deixar de ser, alguns deverão ter em seus currículos a desejável imortalidade.

Vejam alguns exemplos que proponho para este primeiro contato:

- Vulcão

o rio corria como uma labareda de fogo.

- Lágrimas

as margens eram os nossos olhos ressequidos.

- Rimas

medra, nas pedras, o leite derramado.

- Simplicidade

quando todos forem um, seremos nós.

- Maria Fumaça

serpenteava no vão feito uma cobra de estimação.

- Menino de rua

caminhando absorto...parece um anjo, de asas mortas.

É importante constatar que podemos usar todos os artifícios de um poema robusto na construção desta nova modalidade sem que haja perda de qualidade.

A identificação com o poema deve ser instantânea: o leitor deve enxergar novas e infinitas imagens a cada novo olhar. A interação deve ser franca, sem rodeios e, a cada observação, espera-se múltiplas descobertas, se assim for, o poema aparentemente pequeno poderá vir a ser um achado sem fronteiras delimitantes.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 07/08/2014
Código do texto: T4913219
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