" O MANIFESTO DA MEMÓRIA"

A memória é o fenômeno mais instigante dentro da literatura

por sua complexidade, e o escritor francês MARCEL PROUST

( 1871-1922) utilizou esta temática como pano de fundo em sua

extraordinária obra.

Há uma aproximação entre a memória e fotografia, mas as

recordações fazem-se mais presentes embora em muitas

circunstâncias diluam-se nos escríneos das experiências.

Aristóteles identificou num objeto artístico Forma e Conteúdo.

Forma é IMANENTE e Conteúdo comporta o TRANSCENDENTE.

Fotografia é a MEMÓRIA CONGELADA, que capta o fragmento do

contínuo da existência num contexto de transcendência.

O ser humano é capaz de trazer o fragmento de um TEMPO

para o PRESENTE através da memória, que é o vestígio e

revelação do tempo que se mantem só através da recordação.

Proust soube RESGATAR o tempo através da MEMÓRIA

e esta memória é chamada " MEMÓRIA PROUSTIANA ". Em

Literatura o que importa não é todo o tempo, mas o RESGATE

de fragmentos do TEMPO.

Interessam à LITERATURA as RECORDAÇÕES e elas

escamoteiam- se como elementos esquecidos ou semi

guardados no tecido da memória e podem retornar mais

vigorosamente e persistentes por fazerem parte do conteúdo da

existência vivida. Tais recordações persistem no conteúdo das

fotografias, dos quadros, das descrições literárias e até mesmo

das evocações abstratas para resgatar o TEMPO PERDIDO que

nos falou MARCEL PROUST no : "EM BUSCA DO TEMPO

PERDIDO", uma coletânea de sete romances entre os quais

citamos: "No Caminho de Guermantes" e "Raparigas em Flor".

No conto de Aníbal Machado: "Viagem aos seios de "Duília"

( 1964), é contada a história do personagem José Maria que

aposentado, sente a necessidade de visitar sua terra natal em

Minas Gerais para rever Duília, cujos seios lhes foram mostrados

num dia sob uma árvore enquanto passava uma procissão.O

conto foi transformado em filme com direção de Carlos Hugo

Christensen e roteiro com participação de Orígenes Lessa

que analisaram de forma dramática a viagem do retorno às

memórias da juventude de José Maria, num reviver de

sensações esquecidas, culminando com a decepção final, que

representa a impossibilidade de resgate da juventude que dorme

na memória, analogia com o mito do RETORNO AO ÚTERO

MATERNO.

Não se pode negar a participação dos fenômenos do inconsciente

na elaboração de uma obra de arte. William James ressaltou a

importância das associações mentais na elaboração de um texto,

ou quaisquer trabalhos artísticos; a elas denominou

"CORRENTES DA CONSCIÊNCIA", apresentadas aqui como

fenômeno também do inconsciente, a exemplo do que escreveu

James Joyce no monumental romance irlandês "Ulisses".

Toda obra literária provêm de um labirinto de sensações,

memórias estímulos e experiências. A percepção do autor

define a qualidade da obra artística, a genialidade artística,

capaz de transformar o subjetivo das memórias em edifícios da

arte.