A FARSA É DA NATUREZA DA ARTE
A farsa e o fingimento são da natureza da arte poética, pois fazem parte da fantasia que o poema com Poesia explicita através de sua codificada e velada linguagem. E concita o receptor à reflexão e ao Novo. É a matéria da vida transfigurada, não mais a verdade nua e crua do circunstancial que induziu ou provocou o surgimento da Poesia como expressão de comunicação. Por meio da peça poética (a materialidade da Poesia) o poeta-autor recria o cotidiano em anteposição à hostil realidade fática momentânea, e por vezes inóspita, sufocante para o espiritual de quem a sofre, visto ser incapaz de resistir de outra maneira, que não pela criação artística. E neste novo ser verbalizado – o poema – exsurgem os favoráveis albores de outras circunstâncias nascidas da arte com poesia. Portanto, não mais as anteriores, que são exatamente as bastardas vertentes com as quais o poeta briga, explode e as expulsa. Este é o segredo para o criador poético: vir a se adentrar ao mundo recém-criado, com suas (novas) idiossincrasias. Não se trata, apenas de qualificações 'românticas ou de sensibilidade', mas do vazar da intuição e da intelectualidade provenientes de muita leitura e do conhecimento aportado sobre o assunto ou temática. Muitas vezes, neste aportar, o sensorial se derrama num imerso caudal de emoções, em regra, vivificadas memórias. E o poema é uma seta certeira. Parece ter razão e destinação definidas, direto ao outro polo da relação, que nem se imaginava o alvo...
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4831576