ANÁLISE DO POEMA "POEMAS" DO GADI

POEMAS

Poemas que não foram lidos

Poemas que foram esquecidos

Poemas rabiscados

Rasgados

Dilacerados

Perdidos

Poemas... de uma noite sem fim

Que falam de uma vida não vivida

Que trago dentro de mim.

ANÁLISE

Este poema aborda a questão do próprio poema antes da escrita, é algo que não chegou a acontecer, e que foi descartado pelo poeta antes de sua concretização. Trata-se, portanto, de metapoema, porque o poeta está se referindo ao próprio poema em seus versos. Lembrou-me de relance o poema "Emergência" de Mário Quintana, não só pelo tamanho dos textos, mas pela temática proposta pelos poetas. Enquanto Quintana se refere ao ´poema feito. Gadi fala do poema que está por ser escrito ainda. Por isso há certo diálogo entre ambos.

O poeta é sintético, elabora seu texto com palavras que, ao que me parece, passaram por uma bateia, antes de irem deitar na superfcie do poema. Palavras como: "esquecidos", "rabiscados", "rasgados", "dilacerados", "perdidos", dentro do texto viram sinônimas, dando assim nuances de grandiosidades na sua construção. A concisão do poema encaixa o mesmo nas características minimalistas. É o dizer muito com poucas palavras.

O poeta inicia seu texto fazendo uso das figuras de sintaxe ou de construção como a anáfora, por exemplo, que consiste na repetição intencional de termos ou expressões no início dos versos de um poema. Vide: Poemas que foram lidos/Poemas que foram esquecidos/Poemas rabiscados [...]. E, há também, em seguida outra figura de construção, a zeugma que é a omissão de um termo já citado anteriormente, pois sua repetição seria desnecessária. Poemas rabiscados/rasgados/dilacera

dos/perdidos [...].

No plano fônico do poema, temos aí um casamento perfeito entre a ideia do tema proposto e a mensagem do texto. Já que nas palavras: "poemas", "não", "foram", "lidos", "esquecidos", "noite", "fim", "vida", "vivida", "dentro", "mim" se antepõem a: "rabiscados", "rasgados", "dilacerados", "trago". Aquelas, por serem palavras com vogais fechadas, dando um tom funesto, de tristeza ao texto. E estas por traduzirem alegria, ao terem as vogais abertas. Isto encerra um misto de alegria e tristeza que muito contribui para a qualidade do poema.

Este poema deste "garoto prodígio" que é o Gadi, tem tudo a ver com a época atual que vivemos na literatura, pois o texto é construído com apenas nove versos, e se encaixa bem naquela poesia que Oswald de Andrade nos apresenta no seu "Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade". E que eu chamaria também de poema Oswaldiano. Nada mais justo.

Os três últimos versos do poema: "Poemas... de uma noite sem fim/que falam de uma vida não vivida/que trago dentro de mim". É o desfecho da mensagem, aquilo que no soneto chama-se cahve-de-ouro. O poeta faz uso da antítese para a mensagem do texto. Ora, sabemos que para escrever, o poeta traz no corpo do texto a verdade, pois poesia tem compromisso com a verdade, é a vivência do poeta ante a vida. Até por isso, o poema não acontece, por falar de uma vida não vivida.

Miguel de Souza
Enviado por Miguel de Souza em 03/06/2014
Reeditado em 05/06/2014
Código do texto: T4830710
Classificação de conteúdo: seguro