O CONCEITUAL DO "SIMPLES” EM POESIA
Nunca consigo entender bem o interlocutor, quando este insiste sobre a tal "SIMPLICIDADE" do poema. O espiritual do criador, em especial o do poeta e seus alter egos – codificado por intermédio das figuras de linguagem – é um registro que dificilmente se apresenta como simples, vale dizer, repleto de tal singeleza. O aparentemente "simples", curiosamente, é resultado de muita experimentação e de muito tempo gasto na busca de códigos verbais e decantadas ideias. Porém, cada autor vê o mundo segundo o concebe. Se este for sensorial e intelectualmente limitado, a dita “singeleza” pode se confundir com uma visão superficial ou até caricatural. Ou, no outro extremo: se o criador artístico for possuidor de bom aporte cultural e de excepcional riqueza vocabular, a peça artística pode se tornar hermética e até incompreensível para o leitor de poucos dotes. Enfim, o conceito de "simplicidade", para o leitor comum, pode ser confundido com CLAREZA no desenvolvimento do assunto ou FÁCIL de ser entendido. Neste caso, não estaríamos frente a uma peça poética e, sim, teríamos um simples derramamento verbal emotivo, o qual, em regra, apresenta-se com VERSOS SEM POESIA, isto é, aqueles que a Poética não bafejou com o seu intrínseco mistério. Os elementos de poeticidade fazem com que a linguagem se torne muito diferente daquela que usamos no lugar comum dos dias. Se, ao nos toparmos com um texto, e houver nele algo “estranho” ou difícil ao entendimento, é quase certo de que estamos diante de uma manifestação da Poética, e, por certo, o “simples” não estará ali...
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4815959