METÁFORA, POESIA E O POEMA
“A poesia se polariza, se congrega e se individualiza em um produto humano: quadro, canção, tragédia. O poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia erguida.”. Octavio Paz.
A metáfora é a mais expressiva figura de linguagem ou de estilo, e também a mais intrigante, especialmente para o autor novato, que, em regra, está descobrindo os primeiros mistérios dos signos verbais. A metáfora apresenta-se como a subversão do sentido original do vocábulo (palavra), por ela se instala um novo contexto, a partir desta colocação, na temática e no concepto do assunto que o escrito aborda. Sem a constatação da metáfora no escrito, não há como identificar a Poesia como gênero literário, porque somente com a utilização desta se chega ao sentido CONOTATIVO. Pela metáfora, orna-se o poema de uma perceptível CODIFICAÇÃO, que forçosamente remete o receptor à reflexão sobre o assunto e o conteúdo da peça poética. Acresça-se que a Poética contida no poema (com Poesia) nunca dá respostas, e, sim, propõe questionamentos. A principal destinação da poesia é trazer aos olhos e/ou aos ouvidos a novidade benfazeja, o Novo, aquilo que faz bem à pessoa, depois de consumido o poema. Porque Poesia é pra comer e se deliciar com a antropofagia... A Poesia por si, é impalpável, impossível de se tocar, visto que não tem forma nem formato. Todavia, pode ser “sentida”, quando entramos em “estado de Poesia”, e nos iluminamos com o “estranhamento” que ela propõe ao nosso espiritual. Na atual contemporaneidade formal, o POEMA em versos brancos e a PROSA POÉTICA são espécimes caracterizadores da materialização da POÉTICA, isto é, a arte da composição poética. No poema, a codificação se apresenta mais perceptível, e salta aos olhos, porque nele aparece a metáfora profunda ou polivalente e, quanto ao sentido, polissêmica. Na prosa poética, a metáfora é rasa ou monovalente. Neste exemplar artístico de gênero híbrido, as palavras ou expressões apresentam-se menos codificadas, daí ser o conteúdo mais facilmente entendido pelo leitor. O poema nunca se fecha feito uma carapaça de caramujo. Nunca se basta, porque vai além de si mesmo. É proposta de transfiguração da matéria da vida para se chegar a alguns momentos de felicidade nos domínios do poeta-autor e também nos territórios do poeta-leitor. O poema é matéria sem vida, enquanto não alumiado com o lampejo dos olhos ou o som balbuciado aos ouvidos. Enfim, o espiritual do leitor/receptor é que permite a bênção de recriação vital que está no universo do POEMA: o coração pulsante da arte da Palavra...
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4812932