Erros e acertos da novela Amor à Vida

Prólogo

A novela Amor à Vida escrita por Walcyr Carrasco, com a colaboração de Daisy Chaves, Eliane Garcia, Daniel Berlinsky e Marcio Haiduck chegou ao fim depois de mais de 220 capítulos onde muitos temas foram abordados, temas de interesse da sociedade, mas infelizmente, muitos destes temas foram abordados de forma errada, passando assim, informações equivocadas ao público.

As novelas, longas demais, deixam qualquer autor e seus escritores auxiliares estressados. A relação dos custos com o retorno publicitário faz com que, para valer a pena, elas (As novelas) precisem ficar no ar durante meses. Quanto mais longas mais erros são cometidos. Pudera! Como escrever tramas paralelas tão diferenciadas da trama central sem entediar o público? Sem ocorrerem erros nas falas dos personagens?

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA E OPORTUNA

Em nenhuma hipótese quero denegrir ou tirar o brilho da novela Amor à Vida a qual considerei uma tragicomédia ou tragifarsa. Não observarei as falas erradas dos atores e atrizes do tipo: “Me liga”, “Me beija”, “Me fala”, “Me ama”, “Me deixa” e tantas outras como: “Nós viemos hoje aqui para lhe visitar” (Assim falou Paloma quando foi com Félix e o médico Lutero (Ary Fontoura) visitar César (Antônio Fagundes) em sua reclusa moradia e sob o controle da vingativa Aline (Vanessa Giácomo).

Claro que o personagem Carlito (Anderson Di Rizzi) e sua Delícia (Tatá Werneck – Valdirene do Espírito Santo) fizeram o povão dar risadas com suas peripécias e falas eivadas de erros, mas, o que se pode esperar de quem deseja progredir a qualquer custo?

Não sou noveleiro, mas, quando a trama envolve aspectos jurídicos, culturais, segurança pública, relações interpessoais e medicina meu interesse se acentua, fico aguçado sobremaneira e levo em conta dois principais aspectos: 1. Trata-se de ficção muito próxima da realidade. 2. Nada é tão ruim que não se possa tirar algum proveito (ensinamento). Novela é uma obra de ficção, tudo bem. Mas, quando se propõe a ser realista, espera-se verossimilhança dela. E não é o que aconteceu em Amor à Vida.

TRAMAS PARALELAS DA NOVELA AMOR À VIDA

a) Nicole (Marina Ruy Barbosa) é uma jovem linda e frágil, herdeira de uma grande herança de seus falecidos pais, sem parentes próximos. Morava na Europa, mas após ficar órfã, voltou a morar em São Paulo, em uma mansão, junto com a empregada e confidente Lídia (Angela Rebello). Nicole é ingênua, se sente muito solitária, e sonha viver um grande amor.

b) Márcia, a ex-chacrete que fez o parto de Paloma no bar, agora trabalha vendendo cachorros-quentes ilegalmente. Ambiciona subir na vida e para isso conta com a ajuda da própria filha, a desengonçada Valdirene (Tatá Werneck), que fará de tudo para engravidar de celebridades como jogadores de futebol e cantores e assim tornar-se rica.

c) Patrícia (Maria Casadevall) é uma moça moderna e independente que valoriza sua liberdade, depois de sofrer um verdadeiro trauma quando seu marido, Guto (Marcio Garcia), lhe traiu em plena lua-de-mel. Porém, ela acaba se envolvendo com Michel (Caio Castro), um médico sedutor que aceita manter com ela uma relação de sexo eventual, mas a ideia com o passar do tempo acaba não dando muito certo. A melhor amiga de Patrícia é Perséfone (Fabiana Karla), uma enfermeira que sofre com o fato de ainda ser virgem mesmo na sua idade, e que por causa disso fará de tudo para encontrar o parceiro ideal para ter sua cobiçada primeira vez.

d) Atílio (Luís Melo) era o responsável pela contabilidade do San Magno, mas acabou descobrindo que Félix planejava um grande golpe no hospital. Ele acaba sofrendo um acidente de percurso armado pelo próprio vilão, mas sobrevive, apesar de não se lembrar de nada. Desorientado, Atílio foge deixando todos sem notícia dele e despertando o medo de Félix, já que ele pode recuperar a memória a qualquer momento. Ele é encontrado pela ex-chacrete Márcia, e com o nome Alfredo Gentil, ele e Márcia se apaixonam e até ficam noivos mas no dia do casamento, a memória dele volta.

Ao invés de contar à César o que Félix planeja, ele opta por chantagear o vilão. Porém, a memória de Atílio pode voltar e se perder a qualquer momento, fazendo com que ele viva sob uma dupla identidade. Além disso, ainda existe a interesseira Gigi (Françoise Forton), a primeira mulher de Atílio que em crise vive tentando arranjar um jeito fácil de ganhar dinheiro, sem perder a pose de mulher rica.

e) No bairro de Márcia vive Ordália, a mãe de Bruno, uma enfermeira do San Magno casada com Denisard (Fúlvio Stefanini). Além de Bruno, eles possuem três filhos: Gina (Carolina Kasting), mulher humilde, filha de Ordália com outro homem e criada por Denisard. O que ela mais quer é descobrir a identidade de seu verdadeiro pai, o que a mãe faz questão de guardar segredo; Carlito (Anderson Di Rizzi), um "bicão" sem emprego fixo, que mantém uma atrapalhada e reprovada relação com Valdirene, com quem acaba tendo um filho; e Luciano (Lucas Romano), um jovem estudante de medicina que passa por problemas financeiros para pagar sua faculdade. Ele acaba se envolvendo com a enfermeira Joana (Bel Kutner), mas a relação é vítima de preconceito, por causa da grande diferença de idade entre eles.

A trama ainda retrata o relacionamento de Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcello Antony), um casal homossexual que planeja ter um filho através de uma inseminação artifical. Para isso, eles vão contar com a ajuda da amiga Amarylis (Danielle Winits), que acaba se apaixonando por Eron, formando então um triângulo amoroso pouco convencional.

Claro que várias outras tramas paralelas se desencadeiam durante a novela, como os constantes desentendimentos entre Pérsio (Mouhamed Harfouch) e Rebeca (Paula Braun), enfermeiros que vivem em conflito devido às suas diferenças etno-religiosas, mas se descobrem apaixonados; Marilda (Renata Castro Barbosa), mulher que a princípio parece sofrer com as agressões físicas do namorado, mas que esconde seu fetiche sadomasoquista; Vívian (Ângela Dip), dona de um famoso bar perto do hospital San Magno que não consegue parar de beber; Herbert (José Wilker), um antigo caso de Ordália que conquista o coração de Gina.

ERROS DO PONTO DE VISTA MÉDICO (HOUVE VÁRIOS — DAREI APENAS TRÊS EXEMPLOS)

1. O Lúpus de Paulinha foi um dos erros cometidos na novela, esta é uma doença autoimune que ataca a pele, rins, cérebro e outros órgãos e um dos sintomas são manchas pela pele. Paulinha teve que passar por um transplante de fígado, mas isto na realidade não seria necessário, pois o lúpus ataca o fígado de forma subclínica, ou seja, o paciente não demonstra sintomas. Nunca foi feito um transplante de fígado por causa do lúpus.

2. O autismo da personagem Linda foi outro erro! O tema é interessante quando abordado de forma correta, mas a novela não mostrou, por exemplo, que existem vários graus de autismo e Linda a cada momento parecia se encaixar em um grau diferente, as mudanças eram muitas de uma cena para outra. Em certos momentos ela parecia estar em um grau mais avançado do autismo, mas em outros momentos ficava em um grau mais brando.

3. Neste terceiro exemplo houve um erro híbrido (médico-jurídico). O romance entre Niko e Eron que acabou envolvendo Amarilys também apresentou um grave erro: é que as leis brasileiras são muito rígidas e a “barriga solidária” é permitida somente quando se trata de um parente de até 4º grau! Em algumas raras situações é possível ser outra pessoa, desde que se consiga uma autorização do Conselho Regional de Medicina!

ERROS DO PONTO DE VISTA JURÍDICO

1. Um erro crasso da novela foi a Paloma (Paolla de Oliveira) ter retirado a queixa-crime contra Ninho (Juliano Cazarré) quando ele sequestrou Paulinha (Klara Castanho). Ora, ora, ora... O crime de sequestro é hediondo, exige ação penal pública incondicionada e, por conta disso, não há como retirar uma queixa contra um crime dessa natureza.

2. Entre as falhas jurídicas, está a sequência em que o advogado Rafael (Rainer Cadete) vai preso por beijar Linda (Bruna Linzmeyer), que é autista. Mesmo com o consentimento da garota, Rafael foi detido por sedução de incapaz.

3. Outro caso é a condenação de Atílio (Luís Melo) por bigamia, por se casar com Márcia (Elizabeth Savalla) mesmo já sendo marido de Vega (Christiane Tricerri), e apesar de ter perdido a memória em um acidente de carro.

4. No entanto, o que mais foge à realidade é o fato de Félix (Mateus Solano) ser tratado como alguém que abandonou um incapaz, por ter deixado a então recém-nascida sobrinha, Paulinha (Klara Castanho), em uma caçamba de lixo em plena madrugada.

Qualquer juiz do mundo, qualquer júri do mundo, qualquer pessoa vai ter a plena noção de que, quando um meliante pega um bebê recém-nascido e o abandona no meio da madrugada, no frio, dentro de uma caçamba de lixo, não é abandono de incapaz, e sim tentativa de homicídio qualificado.

DICOTOMIA ENTRE A NOVELA E A REALIDADE

NOVELA

No primeiro capítulo da novela, Félix (Mateus Solano) abandona a sobrinha Paulinha (Klara Castanho), ainda recém-nascida, em uma caçamba de lixo, em plena madrugada. “Assim que o vilão é desmascarado, ele é acusado pela família de ter abandonado um incapaz. A sua sorte foi o crime já ter prescrito” – (SIC).

REALIDADE

O que Félix cometeu na realidade é considerado nos termos jurídicos como tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil, meio insidioso e cruel, sem possibilidade de defesa da vítima. Ou seja, largar um bebê com poucos minutos de vida, e ainda sujo de sangue, em um bairro perigoso, durante uma madrugada fria, é uma forma de deixá-lo morrer indiretamente.

Além disso, casos de tentativa de homicídio dolosa e qualificada só são considerados prescritos vinte anos após o ocorrido. Na trama, Paulinha tinha 13 anos quando o vilão confessou o crime. Como é possível que ninguém haja enxergado tão crasso e absurdo erro?

Só há uma resposta plausível: Longevidade da novela! Vimos que na última semana ou três últimos capítulos, com as famosas frases: "Dias depois" ou "Meses depois" tudo ficou esclarecido. Cumulado com a falta de assessoramento jurídico para o escritor Walcyr Carrasco e seus auxiliares o difícil mesmo foi concluir o enredo agradando a todos, principalmente aos preconceituosos, homofóbicos, anarquistas e sociopatas.

Ah! Antes que eu esqueça... Faltou, também, assessoramento médico aos eminentes escritores já que a novela envolvia aspectos relativos à saúde (medicina).

CONCLUSÃO

Quero encerrar este texto transcrevendo as palavras ditas pelo ator José Wilker:

"Hoje em dia o amor se manifesta de muitas formas, existe o amor na sua forma mais pura, mas também existe o amor ao poder, o amor ao dinheiro, o amor ao sucesso, o amor ao corpo, o amor ao belo, o amor ao sexo, o amor ao tudo, o amor ao nada, mas no fundo o que todos deveriam ter é amor à vida." – (Texto dito durante as primeiras chamadas da novela, narradas pelo ator José Wilker).

Complemento o período supra escrevendo sem receio de estar cometendo uma heresia:

A novela Amor à Vida deveria ter melhor enfatizado o amor – ou a ausência do amor –, aspectos familiares e sexuais sem a conotação de uma vingança inconsequente. Deveria ter tratado de pessoas que amam e deixam de amar, por motivos que não conseguem explicar nem a si mesmas nem aos demais espectadores iguais a mim.

O amor – Tem múltiplos significados na língua portuguesa e muitas facetas incompreendidas. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo. Grosso modo é a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação.

Vingança – É pouco conhecida por vindita, mas a essência do mal que causa ao espírito do vingador assemelha-se ao atraso de um espírito amargurado pela involução.

O ódio – Esse sentimento mesquinho, forte aversão a algo ou alguém, produzido por medo, ofensa sofrida, inveja, ofende mais ao seu detentor do que a vítima dessa ignóbil vileza.

Malgrado o esforço despendido, os autores não completaram a tarefa (Propósito da novela que justificasse o tema) a tempo. Sou contra a homofobia ou quaisquer outros tipos de discriminação, mas também não sou a favor da pederastia, mormente apelativa e graciosa. Refiro-me ao beijo entre Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano). É claro que tudo será uma questão de tempo para essa demonstração de afeto em público, pelos homossexuais, tornar-se trivializada assim como já está banalizado o latrocínio, o estupro, o assalto, a corrupção, o nepotismo, a leniência dos legisladores e da Justiça etc.

Ora, o que se poderia esperar de Walcyr Carrasco? Ele puxou a brasa para a sardinha dele! Ele disse sobre sua sexualidade em uma entrevista publicada na revista Playboy e nesta ocasião declarou ser bissexual além de dizer que acha que todos são bissexuais também assim como ele: "Eu sou bissexual, e acho que todo mundo é". Esta entrevista foi publicada na edição de maio do ano de 2013.

Mesmo assim, para mim, salvo outra interpretação, o final da novela Amor à Vida com a visão do pai (César) e filho (Félix), de mãos dadas, perdoando-se e olhando o astro rei sol em harmonia foi a mais excelsa demonstração de um epílogo anunciando um esplendoroso alvorecer.

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NOTAS REFERENCIADAS

— Código Penal Brasileiro;

— Wikepédia – A Enciclopédia Livre;

— Pesquisas e observações visuais do Autor.