ROUBEM MEUS POEMAS
Roubem meus poemas de mim,
levem-os serenamente pela vida,
deixem-os guardados na lembrança.
Esconda-os em algum cativeiro,
Mas não peçam resgate,
porque não tenho como pagar,
e o poema não tem preço, só valor.
Podem planta-los em algum jardim
caso o terreno seja fértil
e a colheita promissora.
Até permito plágio, sem alterações,
senão eles deixam de me pertencer
e a inspiração era só minha,
pois foi a mim que ele procurou.
Entreguem-os a quem precisar,
a quem anda triste e pensando na morte,
pode acontecer de a vida ressurgir
no meio de uma palavra há muito esperada.
Se possível aproximem-os de alguns acordes,
tentem uma parceria com um instrumento
que ali pode nascer um som, uma música.
Roubem meus poemas de mim,
eu os deixo no tempo, de portas abertas,
sem trancas, sem travas, sem apego.
Poemas saem e entram a todo instante,
estão em todos os lugares,
são livres para existir em tudo.
Façam o que quiserem deles,
enterrem-os, afoguem-os, queimem-os.
Nada pode fazer com que eles
deixem de existir.
Um poema nunca é abortado,
ele se transporta e vinga em outro terreno.
Ricardo Mezavila.