MATERIALIDADE DA POESIA

No rigor técnico-literário, o poema é um conjunto verbal que nada tem a ver com o que ocorre no plano da realidade, porque ele é apenas uma figuração alegórica e peculiar. Se a obra revelar tempo e lugar, exceto no relato fixado pelo circunstancial e/ou épico, a peça poética já nasce viciada, maculada pelo plano fático da realidade. O poema é uma peça abstrata – no seu conteúdo – que tem vivência à parte do mundo real. Não se destina a vinculações fáticas. Nem serve para dar respostas, e sim, por seu sugestional individuado e codificado, apenas propõe reflexões sobre a matéria da vida, transcendendo-a para além de si própria. Não nasce com o propósito de aplicação direta no território do real, e, sim, o de chegar ao agente humano, que pode vir a agir nos territórios da realidade a partir de sua carga questionadora. No entanto, este é o formato pelo qual a arte transfunde a vida como fingimento ou verdade. E há quem, por absolutamente necessária, a queira ou a deseje como elemento de concretude...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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