O APARENTE FALA POR SI

Apercebo-me que o autor do texto sempre procura atingir o seu objetivo: dar o melhor de si, fazer bem feito. Esta é a nítida vontade do titular aparente – sem deixar de lembrar o alter ego – da narrativa ou do poema. Porém, no exato momento da criação ele é ao mesmo tempo produtor e receptor, funcionando nos dois polos. À hora do jato da inspiração, dá asas àquilo que traz no coração e na cuca: emocionalidade. São poucos os criadores que conseguem avaliar com algum índice palpável de realidade – mesmo que rarefeito – porque são abstratos os resultados de sua criação. Está-se lidando com os signos, tentando relatar fatos ou ideias oriundas da inventiva sobre a realidade, mormente na axiologia (os valores) da humanidade e seus costumes, naquele momento dado. Mourejamos no universo codificado da linguagem, onde tudo é possível. Mormente o farsante tripudiando sobre o mundo hostil que lhe permite o voo ilusório reparador das perdas. De si e do leitor, os quais, mercê dos desafios, apreciam flanar sobre os precipícios abissais da memória... Enfim, o todo inspirador ao voo reparador dos espelhos refratários do real...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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