DO ESCREVER: OFÍCIO E CORAÇÃO

Acredito que é bastante possível melhorar a escrita com a leitura de textos de escritores consagrados e/ou experimentados nos misteres literários, como é o meu caso. De qualquer modo, sempre aprendo muito com o leitor. Este é quem baliza, dá as dicas sobre o que estou escrevendo, ou até mesmo quando me diz que não gosta de ler o que eventualmente trago à pauta. O leitor, em sua observação estética, ajuda o meu pouco submisso coração – que dificilmente consigo revelar – eis que prepondera em mim o intelectivo, até, por vezes, o estrito uso das técnicas do ofício de escrever, forte no fazer poético. Todavia, é a sensibilidade do receptor que procuro atingir, e, para isso, necessito mais do que o meu próprio sentir. Preciso de recursos verbais para que possa atingir o misterioso universo de me sentir dentro do Outro... Curiosamente, no entanto, me apercebo que é no diálogo com o interlocutor que nasce o embrião do texto literário, especialmente na prosa poética, e em cartas e mensagens. Também nos textos tutoriais, que representam como eu concebo o mundo e registro as atribulações do viver. O escriba concebe-se neste emaranhado da criação como um peregrino num terreno árido e neste cava o seu próprio poço de água, que nem sempre é originalmente boa para beber. O desafio é sobreviver...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4407137