Explicando um verso

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Atendendo a um pedido, comento o verso abaixo:

“Navegar é o sonho do cisalhamento...”.

Navegar é uma das formas do homem se movimentar. O Infante D. Henrique, quando fundou a Escola de Sagres, no Séc XVI, disse: "Navegar é preciso". É navegando que descobrimos novos horizontes, novas pessoas, novos mundos... E por que esse navegar é sonho? Porque ele está fora de nós, fora do nosso entendimento. Desejamos, sim, mas o que nos leva a sonhar? Por isso o cisalhamento. Na hidráulica, o cisalhamento se verifica quando ocorre o corte. Nesse ato, as partes se movimentam, paralelamente, por escorregamento, uma sobre a outra, e se separam. Os navios deslizam no mar por causa da tensão de cisalhamento. Resumindo: houve um encontro. Se o poeta ficar parado, jamais concretizará a razão do que o motivou a sonhar. Por isso, existe a busca – navegar é sonho porque não sabem nada um do outro, nada além do que sentem, ou acham que sentem. Construiu-se o sonho poético a partir da ilusão. E o cisalhamento é a força que o poeta encontra, ligada à resistência que a vida os coloca, sempre. Entretanto, apesar da tensão, o barco anda, navega... A musa pode resistir o quanto quiser – o barco já saiu do porto e não haverá desistência. O poeta desafiará tudo para chegar até ela: tempestades, furacões... Nada o impedirá de navegar. Esse sonho, hoje resistência, vai se tornar real. Quando ele chegar e fincar a âncora, navegarão juntos e ele sentirá, por fim, todas as curvas, esculpidas no corpo da amada... E velejarão para mundos onde apenas os amantes podem atracar.

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 23/07/2013
Reeditado em 29/09/2014
Código do texto: T4401368
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