A IDENTIDADE DISFARÇADA

Não se pode fazer 'tabula rasa' em relação ao criador literário – se vaidoso ou singelo – porque segundo a minha ótica peculiar, quem escreve não é o ego, e, sim o alter ego. E este, pelo mistério implícito da psique, pode ou não ter exacerbada autoestima, o que, neste caso, compromete vivamente o texto. O FINGIDOR é apenas aquele que não imprime VERACIDADE em sua lavratura. Charles Bukowski, na quase totalidade de sua obra, implica em (por vezes com uma linguagem pornográfica) dar uma bofetada na sociedade americana contemporânea... Porém, a sua verdade está presente. O similar ocorre com Baudelaire, em França, e Allen Ginsberg e Henri Müller, que atacam a sociedade yankee e o ‘american way of life’, por capitalista, hipócrita, sem identidade que não a do dinheiro... Volto a afirmar que a vaidade é para os viventes do lugar comum da vida – os que se contentam com o simples viver... Percebo, nos criadores, a ânsia do reconhecimento de sua obra artística e intelectual, com suas profundas e imediatas frustrações. Não reconheço como tal esta manifestação tão plenamente humana, e a coloco noutro plano, inserida no composto psicológico da AUTOESTIMA – a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma – e não propriamente a rasa vaidade de quem se apresenta como orgulhoso, soberbo por concepção, provavelmente a fim de vencer o complexo de inferioridade frente ao semelhante. Joaquim Moncks, in

VAIDADE E AUTOESTIMA.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4372772

– Marilú Duarte, via e-mail em 05/07/2013.

Literalmente é possível definir o alter ego? Seria uma identidade disfarçada e supostamente mais coerente do ego? Ou seria a proporção descompensada que coexiste artificialmente, se intitulando de o ”outro eu”? Parece cômodo concluir que é o “eu adormecido, inconsciente, não pensante”, portanto não responsável por suas atuações? Seria o alter ego, aquele que diverge com o ego na representação das ideias, raciocínios, decisões e emoções? Somos dois em um, porque somos seres ambivalentes: cultuamos a verdade e a mentira, o ódio e o amor, a raiva e a ternura, a vida e a morte. Duas metades que se conflitam, e em uma luta acirrada, onde não há vencidos nem vencedores. E assim convivemos o dia a dia, fracionados, divididos, simulando a personalidade ideal e escondendo o “eu oculto”, o verdadeiro eu que se revela “para o outro”, mesmo que se tente dissimular. O ego e o alter ego são como gêmeos siameses, presos a um só corpo e em uma só mente, cada um tentando sobreviver com os conflitos e limitações. E como se não bastasse, aprisionam a autoestima, ora gloriosa, excêntrica e narcísica, ora alicerçada à insegurança, inadequação, necessidade de aprovação; desejo de reconhecimento, perfeccionismo, dúvidas e a incerteza do que se é. Todas essas crenças sedimentadas pelas críticas, culpas, abandono, medo, rejeição, carência, vergonha, inveja, timidez, frustração e insegurança. Como avaliar se há em jogo duas respostas e dois conceitos para apenas um contexto? Por um lado o que eu penso e por outro o que eu “penso que penso”, para então poder existir, sendo eu mesmo – sem pensar que sou o outro.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DE SI PRÓPRIO. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4375492