Leitura analítico - interpretativa do poema “O bicho” de Manuel Bandeira
Por:
FRANCINEIDE B. DE S. PEDROSA
JOSILENE FERNANDES SUASUANA
MARIA DO SOCORRO O. DE ALMEIDA
O poema “O bicho” de Manuel Bandeira foi escrito na década de 40. Neste período, o país passava por um avanço econômico e um forte crescimento do capitalismo. Desencadeando, assim, a desigualdade, onde, quem mantinha o controle do capital tinha fortes chances de crescimento econômico e social e aqueles que viviam a margem da sociedade, eram excluídos por não se encaixarem na classe social alta, pois pertenciam à classe subalterna.
De acordo com o contexto de cada época, a literatura, como fio condutor, mostra a realidade vivenciada pela sociedade, denunciando as formas de exclusão e abordando temas universais que afligem a população de modo geral. Dessa forma, a literatura tem como papel, expor a realidade, através de traços literários, que por sua vez, trabalha com a ficção, mas, baseada na verossimilhança com o real.
A obra de Manuel Bandeira nos faz refletir sobre essas diversas realidades, visto que, nelas, predominam o retrato do cotidiano, o humor, a liberdade de conteúdo e de forma, a história da sua própria vida, a indignação com a realidade humana e a idealização de um mundo mais justo. Como podemos observar na sua obra “O bicho”.
Neste poema, o autor faz uso do estilo moderno, e não obedece as estruturas formais de outros estilos, como o verso rimado. Manuel Bandeira se utiliza dos versos livres sem obedecer à métrica, e só apresenta algumas rimas casuais como no caso de “examinava” e “cheirava”, que são rimas internas vistas no quinto verso do poema. Já, no oitavo e nono versos têm as rimas “gato“ e “rato”, emparelhadas, no entanto não se caracterizam como forma fixa.
Ao contrário de muitos poemas, que descrevem as belezas e que idealizam a pureza da alma e inspiram os poetas, o poema “O bicho”, aborda uma denúncia social. Como um observador, o poeta descreve as condições subumanas em que vive o homem marginalizado em nossa sociedade, onde os mesmos são esquecidos e tratados como bichos.
O poema retrata a pobreza e a marginalização de uma grande parte da população, que na luta pela sobrevivência, é obrigada a viver em condições de vida que se assemelham a de alguns animais. Como podemos observar na primeira estrofe do poema: “Vi ontem um bicho/Na imundice do pátio/catando comida entre os detritos”. Nesse fragmento, o autor faz uma comparação entre a vida das pessoas de rua, que retiram seu alimento do lixo, com a de um animal que faz a mesma coisa para sobreviver.
O autor se coloca no espaço vivenciado pelo eu lírico do poema, para assim mostrar a necessidade das pessoas que se encontram em condições miseráveis de vida, como nos mostra na segunda estrofe do poema: “Quando achava alguma coisa,/Não examinava nem cheirava:/ Engolia com voracidade.” Manuel Bandeira nos passa uma imagem com características reais, onde a plasticidade nos conduz para a situação descrita no poema e nos tele transporta para ver além do que está escrito, ou seja, recriar mentalmente a cena descrita no texto.
O autor conclui o poema com uma expressão de espanto: “O bicho, meu Deus, era um homem”. Com isso, o poeta chama a atenção para a condição miserável de um ser humano que não é “bicho”, mas é comparado com um, quando se submete a viver catando comida entre os detritos para matar a fome, devido à falta de oportunidade de uma vida digna, transformando-o num bicho homem.