O ensino literário nas escolas
Muito se questiona sobre o Ensino de Literatura hoje, os métodos, abordagens e concepções da educação. Várias pesquisas demonstram que embora passe na escola a maior parte dos alunos sai da sala de aula sem adquirir as competências mínimas de leitura, escrita, reflexão crítica e visão de mundo. Por essa razão o Ensino de Literatura vem sendo discutido há tempos, tanto na forma de Ensino, quanto no uso da maioria dos livros didáticos da disciplina no Ensino médio que ainda contribui para a configuração desse quadro de insucesso escolar. Sendo que as maiorias desses livros se apoiam em contextos históricos, escolas literárias, datas, apresentam apenas recortes de obras.
Buscando modificar essa metodologia é que se propõe enfatizar o Ensino de Literatura baseando-se na “Teoria da recepção”. Teoria esta que nasceu na Alemanha em meados de 1960, tem como seu maior precursor Hans Robert Jauss.
Para Jauss, a obra literária esta ligada ao leitor, essa relação dialógica tem implicações estéticas e históricas. Sendo que a estética é a recepção da obra pelo leitor do qual recebe com um julgamento, uma avaliação do valor estético em comparação com outras obras lidas anteriormente, ou seja, o leitor faz uma busca por sua bagagem de leituras para avaliar a atual leitura; já a segunda menção trata da recepção pelos leitores, que pode ter seguimento de uma gênese à outra, tornando evidente sua qualidade. Jauss considera uma boa leitura aquela que proporciona algo ao leitor. Para apresentar sua teoria Jauss apresenta sete teses com o objetivo de fundamentar e reescrever a história da Literatura. A primeira diz respeito à história da Literatura como processo de recepção e produção estética, que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor.
A leitura de uma obra que desperta a lembrança do já lido, refere-se à segunda tese de Jauss. Sob esse aspecto, Jauss afirma que as obras evocam um horizonte de expectativas dos seus leitores, para depois destruí-lo lentamente. Já a terceira tese trata da reconstrução desse horizonte de expectativas. Assim, é possível determinar o caráter artístico de uma obra a partir do efeito por ela produzido no público. Na quarta tese é observada a relação entre o texto e a época em que foi escrito e a história da sua recepção. Com isso, a quinta possibilita inserir a obra em sua série literária, ou seja, inclui a obra em uma história de recepções. Assim, o caráter artístico de uma obra não é imediatamente perceptível, pois um longo tempo de recepção torna-se necessário para se revelar o que se pensou ser inesperado e perceptível. Jauss explica que a sexta premissa revela um amplo sistema de relações na Literatura de um determinado momento histórico. A última tese abordada fala da importância da função social da Literatura. Para Jauss, a função social se manifesta quando a experiência literária faz parte do seu horizonte de expectativas; quando, portanto, a Literatura contribuir para estabelecer a relação entre outras formas de comportamento social.
A Estética da Recepção se preocupa com o leitor, como este recebe o texto literário e o interpreta. Para Jauss o leitor adquire novas experiências quando entra em contato com as realidades, percebe sua realidade de outra maneira. Esta é uma das alternativas para apresentação da Literatura aos alunos sem eliminar a história, mas aproximando autores e obras de diferentes épocas, aproximando a Literatura de outras linguagens artísticas (cinema, música, teatro).
O OCEM (Orientações curriculares para o Ensino médio) propõe uma mudança no Ensino de Literatura, “faz-se necessário e urgente o letramento literário: empreender esforços no sentido de dotar o educando da capacidade de se apropriar da Literatura, tendo dela a experiência literária.” (BRASIL, 2006, p. 55), que é entendida como “o contato efetivo com o texto”. Conforme aponta o documento, esse contato com o texto torna-se imprescindível porque é através dele que o educando poderá “experimentar a sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do texto literário (...) consegue produzir no leitor, (...) contribui com sua própria visão de mundo para a fruição estética” (BRASIL, 2006, p. 55). É, portanto, esse processo intercambiável que propicia “a ampliação de horizontes, o questionamento do já dado, o encontro da sensibilidade, a reflexão, enfim, um tipo de conhecimento (...) que objetivamente não pode ser medido”. Ou, dito de outro modo, o prazer estético é concebido pelas OCEM como “conhecimento, participação, fruição” (BRASIL, 2006,p. 55).
Em sua obra Estética da Recepção e História da Literatura (1989) Zilberman, conceitua que a estética da recepção gerou novos princípios, sendo responsável pela revelação de novas ideias, “exigindo que se esteja não só atento para a novidade, mas que mantenham os sentidos em forma para perceber, compreender e interpretar da melhor maneira possível sua ocorrência” (ZILBERMAN, 1989, p. 12).
Partindo dessa pressuposta teoria podemos perceber que a mesma pode contribuir muito no Ensino de Literatura, pois é muito comum ouvir comentários dos alunos, “Para que serve Literatura? Qual a sua utilidade? Qual sua função?” Os alunos sentem a necessidade de saber para que serve aquele ensinamento e qual a sua utilidade. Estes ficam presos à funcionalidade dos ensinamentos, tudo que se aprende deve ter uma finalidade de ganho.
Em uma pesquisa realizada com alunos do Ensino médio na escola em que realizei os Estágios anteriores, pude comprovar que as preferências dos alunos são as disciplinas que apresentam um conteúdo prático e objetivo como, Matemática, Física, Química, Biologia. Entre as mais desconsideradas são, Língua Portuguesa, Literatura, redação e História. Quando indagados o porquê de não gostarem destas disciplinas, uns responderam “que era difícil”, outro disse que “exigia muito pensamento”.
Percebe-se que as disciplinas que exigem maior concentração e não tem uma resposta rápida e prática, ou seja, disciplinas com conceitos vagos e muito subjetivos que exijam reflexão correm o risco de cair no desinteresse dos alunos, pois estes talvez não consigam ver a utilidade prática e aplicação de seu aprendizado.
Em relação à importância da Literatura Cosson(2006) aponta em seu texto Letramento Literário que a Literatura só cumprirá seu papel de humanizar quando não for mais vista como plano de fundo para trabalhar gramática, interpretação, é o que infelizmente acontece em nossas escolas tanto no Ensino fundamental (fragmentos de textos literários que são sucedidos de simples atividades de interpretação e produções de texto) como no Ensino médio (história da Literatura brasileira, memorização de datas, autores e estilos); deixando em evidência a falta da leitura efetiva de textos literários nas escolas.
Assim como Cosson, Antonio Candido destaca que a Literatura é fundamental à vida do homem é um bem indispensável:
[...] a Literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo, ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto nos humaniza. Negar a fruição da Literatura é mutilar a nossa humanidade (CANDIDO apud COSSON, 2004, p. 186)
Cosson(2006) ainda destaca alguns equívocos que surgem com relação à leitura literária na sala de aula, como a simples atividade de leitura, considerada como toda a atividade escolar da leitura literária. Pensar-se que os livros falam por si só aos leitores e que não necessitam de nenhuma intervenção, que o ato de ler é solitário e que não deve ser compartilhado. No entanto, o autor enfatiza que o letramento literário é fundamental no processo educativo se quisermos formar leitores que sejam capazes de exprimir toda força de humanizar da Literatura e não apenas que aprendam a “ler melhor”.
Os PCNs(2002) apontam em uma experiência realizada com alunos em que:
Solicitamos que os alunos separassem de um bloco de textos -- que iam desde poemas de Pessoa e Drummond até contas de telefone e cartas de banco – os textos que fossem literários e os não-literários, de acordo como são definidos. Um dos grupos não fez qualquer separação. Quando questionados, os alunos responderam: “todos são não-literários, porque servem para fazer exercícios na escola.” E Drummond? Responderam: “Drummond é literato, porque vocês afirmam que é, eu não concordo. Acho ele um chato. Porque Zé Ramalho não é Literatura? Ambos são poetas, não é verdade?"(2002, pp. 137-138)
Podemos perceber com essa referente situação descrita acima que quando os alunos se expressam são grandes as surpresas. As explicações dadas aos alunos não faziam o menor sentido para eles. Porque Drummond é literário e Zé Ramalho não? Sendo que eles só diziam que Drummond é literário porque o professor afirmava.
Esta realidade demonstra que o jovem se envolve com determinada disciplina quando consegue ver utilidade naquilo que está estudando, ou seja, consegue aplicar o conhecimento adquirido.
Partindo desta realidade entendemos que a Literatura no Ensino médio apresenta grandes dificuldades, pois o aluno não consegue entender o contexto de produção da obra literária e o contexto de sua leitura; e a possibilidade de diálogo da Literatura com outras áreas do conhecimento e outras artes.
É necessária uma nova metodologia de Ensino, abandonar o uso de obras literárias como suporte de Ensino de gramática, interpretação de textos. Abandonar esse Ensino que há mais de um século, vem sendo feito sempre do mesmo modo: privilegiando o aspecto cronológico da história literária.
O Ensino de Literatura no Ensino fundamental e médio é extremamente importante. Uma das razoes é propiciar que o aluno veja a Literatura como linguagem, da qual ele possa descobrir um mundo imaginário, com sensibilidades, expressões poética, valores, desejos e utopias.
Os PCNs(2000) propõe que no Ensino médio o aluno deve ser preparado para participar o mundo social. Segundo Lajolo (2001, p.116) “a Literatura exerce um papel preponderante na formação do educando, porque este, exerce de plena sua cidadania.” A autora enfatiza a importância de a Literatura estar presente no currículo escolar, pois é preciso garantir ao aluno o acesso à produção cultural e de arte.
Tendo em vista que a Literatura propicia conhecimento de mundo, cultural, visão crítica acerca dos problemas sociais. Porém não se pode pautar o estudo da Literatura somente em cânones literários. Sendo que é a clara a resistência dos alunos em ler obras maiores, extensas. É necessário tentar aproximar obras literárias do cotidiano dos alunos, sendo que é bem melhor ter uma obra aceita pelos alunos, do que várias obras lidas sem nenhuma compreensão.
Uma metodologia que pode ser abordada é a leitura de contos, esta pode atingir toda a turma, sendo que a maioria dos alunos não lê um livro por inteiro. Aqui cabe uma consideração de Ezequiel Theodoro da Silva, 2005 de que os jovens da atualidade exigem outras opções de leitura e que os clássicos sejam apresentados utilizando-se várias formas e recursos. Estes recursos podem ser filme, teatro, dramatização, entre outros.
BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais – Ensino Fundamental– Língua Portuguesa. Brasília: SEF/MEC, 1998.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
LIMA, Luiz Costa (org.). A Literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Hans Robert Jauss. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002.
______________________________. Parâmetros Curriculares Nacionais- Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.