TENTANDO ENTENDER...

Uma flor tem o chão, o solo que lhe dá os nutrientes necessários à vida, força e sustento que lhe garante, parcialmente, para iniciar sua jornada; tem a sombra fresca do arrebol, a brisa e o orvalho da aurora; tem o calor do Sol que lhe conforta e aquece, fortificando seus mecanismos de subsistência. Mesmo assim, não há completude em seu ser, sua essência, seu mundo e realidade estão, de certa forma, vazios. O que falta para um objetivo surgir em sua existência? O que lhe dá sentido? Talvez ela nunca descubra, mas será motivo para não mais procurar...

A dimensão humana é assim também: inefável e impressionante. Desde o início, quando se deu conta da consciência de sua existência, o Homem vem procurando explicações para perguntas que não se calam, a Magna Questio: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Será tolice ou pretensão buscar tal resposta? Não. Como disse Aristóteles, em sua obra “Metafísica”, todos os homens tem, por natureza, o desejo de conhecer. Que natureza é essa? O homem é atraído para o conhecimento a fim de conhecer o conhecimento último de tudo. Como diriam os grandes sábios pré-socráticos, a arché. Como chegar então à esse conhecimento? Eis que o homem disse e assim se fez, surge, então, a ciência do conhecer: a Filosofia. Deus cria o homem e ele a ciência. Mas que Deus é esse? Existe tal ser para chamar de “Deus”? Se pode ou não ser pensada essa realidade utópica pelos homens, o que se pode falar sobre ele? Começa, então, o movimento lógico-racional lançando o homem rumo ao desconhecido, ao inimaginável, ao indizível, àquele que é, foi e continua sendo, sempre. E, quando não se pode mais dizer, chega a um ponto em que nem mesmo o homem supunha existir: o limite do conhecimento. Como explicar essa realidade última que não é nada do que foi dito, até agora, por ninguém (arché, motor imóvel, o Bem, o Uno, etc.) e nem pode ser experimentado neste mundo. Surge, então, a possível solucionadora dos problemas, tanto dos lógicos quanto dos poetas: a ciência teológica cristã. A ela é atribuída a “maior das jogadas” feita por homens, pois não anula nem dizima o deus dos filósofos, mas lhe dá uma nova característica. A realidade última, o deus desconhecido – a quem os gregos cultuavam –, se encarnou no mundo e surgiu como homem, imagem e semelhança de Deus. A Metafísica se mostrou; o pensado e o inimaginado podem, agora, ser visto, sentido e vivido junto aos homens, mas que eterniza sua existência como Deus. Mas é possível pensar Deus? Um Deus que é pensado não se torna limitado à nossa ignorância racional? Certa vez, um homem diz a uma criança: diz-me onde está Deus e eu te dou um doce. Por sua vez, sabiamente, a criança responde: me diz onde ele não está e eu te dou dois...

Talvez a dimensão metafísica tanto do homem quanto de Deus esteja mais perto do que se possa imaginar; porém, por sê-lo tão prepotente em explicar tudo, o homem O torna mais distante do que a realidade que o cerca. De fato, “... a auto-consciência de Deus é a nossa auto-consciência. O auto-conhecimento de Deus é o nosso auto-conhecimento[1]...” Ludwig Feuerbach

[1] as palavras autoconsciência e autoconhecimento estão escritas pela forma gramatical antiga, já que são parte de um texto do autor citado. Por isso, não podem ser escritas pela nova forma gramatical que está no começo desse pequeno parágrafo.

Rosdrigo
Enviado por Rosdrigo em 21/04/2013
Reeditado em 31/03/2014
Código do texto: T4251521
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