BREVE ANÁLISE DO CONTO “NEGRINHA” DE MONTEIRO LOBATO
Por:
FRANCINEIDE B. DE S. PEDROSA
JOSILENE FERNANDES SUASUANA
MARIA DO SOCORRO O. DE ALMEIDA
Monteiro Lobato foi um jornalista, contista e escritor de histórias para adultos e crianças. Os seus contos em geral apresentam um final trágico, sendo essas, uma das suas características. São histórias próprias do interior brasileiro, com personagens simples, de vidas sem grandes expectativas. No conto “Negrinha” o autor faz uma forte denúncia social ao contar a história de uma negra órfã, que sofria todos os tipos de maus tratos, pela patroa Dona Inácia. Que a criou por sob a intenção de salvar sua própria alma.
O autor expressou o momento histórico que se configurava em finais do século XIX, onde a lei do ventre livre dava respaldo aos filhos de escravos para serem criados, alimentados, vestidos e educados pelos patrões como “órfãos”. O que na verdade não passava de um tipo de escravidão. Pois, essas crianças, como bem retrata o conto, eram vítimas de todo tipo de violência física e psicológica “Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água ‘pulando’ o ovo e zás! Na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse”.
Monteiro Lobato denuncia, assim, a camuflagem que existia por trás das leis que vigoravam naquela época. O que na verdade deveria ser liberdade não passava de mentira socialmente bem elaborada. Dona Inácia tentava passar uma imagem de mulher virtuosa e caridosa quando o que ela fazia era alimentar a sua postura contrária contra a liberdade dos negros, “nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual a branco [...]”.
Dona Anastácia tendo sido senhora de escravos nunca aceitou a idéia de liberdade para os mesmos e por isso descontava sua gana de maltratar na pobre Negrinha, que não entendia o porquê de tanto sofrimento.
O conto de Monteiro Lobato denuncia o preconceito de raça e a exclusão social existente, mesmo depois da liberdade dos negros. Camuflada por trás de certas atitudes, a escravidão continuava da mesma forma, os brancos não aceitavam a igualdade com os negros. Essa abolição só veio a acontecer em decorrência do progresso econômico pelo qual o país passava. Visto que o país necessitava de mão de obra livre que contribuísse para o desenvolvimento do progresso.
O autor mostra, através do conto, o contraste entre uma criança negra e uma criança branca, deixando clara, a discriminação racial presente na sociedade da época, o que concomitantemente perdura ainda nos tempos atuais. Negrinha não podia brincar com as meninas brancas, muito menos possuir brinquedos, o que a limitava a sua condição de escrava.
Durante seus sete anos de vida, ela só teve contato uma única vez com crianças brancas, aonde veio a conhecer o que era um brinquedo. A partir de então, ela idealizou aquele momento em sua mente, tornado-a escrava de um sentimento que nunca tornara a se repetir, pois a mesma morreu por tristeza de ter se descoberto humana em meio aquela cruel vida em que se encontrava.