Lirismo, poética e canção em Paulo Leminski

Departamento de Letras – Disciplina: Teoria Literária II

DISCIPLINA: Teoria Literária II

CURSO: Bacharelado Letras SEMESTRE: 2º - 2012

TURNO: Noturno PERÍODO: 2º

PROFESSOR: Dr. Roniere

NOMES: Jaqueline Gomes Teixeira, Luís Antônio Matias Soares e Paulo Alexandre de Freitas

Lirismo, Poética e Canção em Paulo Leminski

As produções literárias, desde tempos remotos, desdobram-se em inúmeras categorias que diacronicamente se diversificam, mesclam-se ou evoluem por si mesmas, adquirindo novas expressões, sendo, portanto, necessária uma classificação desses estilos a fim de melhor conhecê-los. A composição toma um valor próprio, por ser muito diferente das outras formas de literatura, pois segundo Culler (p.80), “colocar a linguagem em primeiro plano e torná-la estranha através da organização métrica e da repetição de sons é a base da poesia”. Algo tão ligado à arte e ao espírito criativo humano certamente haveria de ter uma definição própria.

Definido o conceito de poesia, nota-se que ela também se desmembra em diferentes estilos, sendo estes primeiramente formulados pelos gregos através de Platão e seguido pelo discípulo Aristóteles que, segundo Cara (p.10), considerava importante a compreensão da arte como produto da relação entre o ser humano e o mundo. A métrica, o ritmo, a musicalidade, todos estes critérios são analisados de forma a melhor dividir a poesia, assim como as influências que uma ela recebe de outros(as) autores(as), pois como diz Eliot (1989, p.39) sobre quem faz versos, “Não se pode estimá-lo em si; é preciso situá-lo, para contraste e comparação, entre os mortos”. A este estudo, chamou-se poética.

Apesar da análise estrutural da poética ter sido profícua, esta não se tornou suficiente para o estudo da subjetividade, ou em termos mais leigos, o “espírito” do(a) autor(a) impresso nos versos. Surge então o lirismo, que se foca sobre a profundidade artística de um poema, a posição do eu lírico ou mesmo a ausência deste, como é bem visto na poesia contemporânea, onde segundo Friedrich (1978, p.15-17), o(a) autor(a) pode atuar nela como uma inteligência poetizante, uma “mão invisível” sobre sua obra, que mesmo sendo incompreensível, pode causar fascinação sobre quem o lê, num conceito de dissonância.

Explicitados os conceitos, nota-se a importância destes para se adquirir uma análise mais crítica, um panorama mais amplo e uma leitura mais proveitosa sobre a poesia.

Biografia de Paulo Leminski Filho

Paulo Leminski nasceu em Curitiba/PR em 1944 e faleceu em 1989, por cirrose hepática. Foi poeta, romancista, tradutor, crítico, diretor de criação, redator em agências de publicidade e professor de judô, história e redação. Filho de Paulo Leminski, militar de origem polonesa, e Áurea Pereira Mendes, de ascendência africana, aos 12 anos ingressou no Mosteiro de São Bento (São Paulo), onde adquiriu conhecimentos de música, latim, teologia, filosofia e literatura clássica. Em 1963 abandonou a vocação religiosa, tendo sido expulso do mosteiro por indisciplina. Em seguida viaja a Belo Horizonte para participar da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda e conhece os Concretistas Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos. No ano seguinte publica seus primeiros poemas na revista Invenção. Em 1976 publica o primeiro romance, Catatau. Fascinado pela cultura japonesa e pelo zen-budismo, escreve haicais e a biografia de Matsuo Bashô. Traduz para o português as obras de Joyce, Samuel Beckett, Yukio Mishima, entre outros. Colabora em revistas de vanguarda, como Raposa e Qorpo Estranho. Em 1968, casa-se com a poetisa Alice Ruiz. Viveu com ela por 20 anos e teve três filhos: Miguel Ângelo (morto aos dez anos), Áurea e Estrela.

Obras de Leminski

Poesia

Quarenta Clics em Curitiba - 1976

Não Fosse Isso e Era Menos, Não Fosse Tanto e Era Quase - 1981

Polonaises - 1981

Caprichos e Relaxos - 1983

HaiTropikai - 1985 (com Alice Ruiz)

Distraídos Venceremos - 1986

La Vie em Close - 1991*

Winteverno - 1994*

O Ex-Estranho - 1996 *

Romance

Catatau - 1975

Agora É que São Elas - 1984

Biografia

Cruz e Souza, o Negro Branco - 1983

Matsuó Bashô, a Lágrima do Peixe - 1983

Jesus A.C. - 1984

Leon Trostki: A Paixão Segundo a Revolução - 1986

Vida (reunião das biografias anteriores) - 1990

Ensaio

Anseios Crípticos - 1986

Metamorfose, uma Viagem pelo Imaginário Grego - 1994*

Ensaios e Anseios Crípticos - 1997*

Anseios Crípticos 2 - 2001*

Conto

Descartes com Lentes - 1995*

Infantil e juvenil

Guerra Dentro da Gente - 1986

A Lua Foi ao Cinema – 1989

Poema musicado: Verdura

A poesia de Paulo Leminski apresenta uma estrutura ágil e movimentada, cheia de rimas e ritmos e age diretamente sobre nossos ouvidos. Talvez seja este o motivo pelo qual muitos de seus versos tenham sido musicados. No caso de Verdura, a música e a letra pertencem igualmente ao poeta, tendo sido gravada em 1981 por Caetano Veloso no disco Outras Palavras.

VERDURA

de repente

me lembro do verde

da cor verde

a mais verde que existe

a cor mais alegre

a cor mais triste

o verde que vestes

o verde que vestiste

o dia em que eu te vi

o dia em que me viste

de repente

vendi meus filhos

a uma família americana

eles têm carro

eles têm grana

eles têm casa

a grama é bacana

só assim eles podem voltar

e pegar um sol em Copacabana

O que nos salta inicialmente aos olhos é o recurso poético da anáfora (repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos), com a função de amarrar os versos e frisar determinados elementos. Verdura brota então de forma arrebatadora e repentina. Surge a cor verde, “a mais verde que existe”. Essa cor sempre esteve associada à esperança e compõe boa parte da bandeira nacional.

O poema foi publicado em 1981 no livro Não fosse isso e era menos / não fosse tanto e era quase, fase final da ditadura militar no Brasil e, portanto, época de muita esperança para o povo brasileiro. Mas os prognósticos sugeridos no poema não se limitam apenas ao verde alegre, mas também àquele que representa a “a cor mais triste”. É nessa situação de emoções diversas e contraditórias que a primeira estrofe do poema encontra o casal protagonista dos versos.

Na segunda estrofe o casal já teve filhos e os cedeu “a uma família americana” que poderia lhes propiciar melhores condições de vida. Quando da publicação do poema os tempos do exílio imposto pela ditadura começavam a se fazer passado. Então tal exílio se mostra agora como um exílio voluntário. Leminski cria uma alegoria para o sentimento geral de incerteza e de busca por um futuro melhor. O verde, o mesmo da bandeira nacional, seria motivo de esperança apenas se o lugar de sua existência fosse outro que não o Brasil. Assim, o fim do poema, apesar de apresentar um conteúdo cômico criado pelo humor negro da comparação entre as famílias brasileira e americana, também traz a dor da perda dos filhos para uma vida mais abastada na qual “a grama” e a grana seriam bem mais bacanas. Convém lembrar que na década de 80 o fluxo migratório para o exterior cresceu significativamente entre os brasileiros que deixavam o país à procura de melhores condições.

Conclusão

Tomando-se por base a obra poético-musical de Leminski e, recordando-nos de que nos tempos antigos a poesia sempre esteve ligada à música (como, por exemplo, na Grécia de Aristóteles ou na idade média provençal francesa), não nos devemos admirar de que tenhamos na atualidade uma versão moderna dessa união entre e a música e os versos.

É por este motivo que tanto muitos dos poetas antigos quanto dos modernos entoavam e entoam seus versos tantas vezes se fazendo acompanhar por suas liras ou pelos modernos instrumentos musicais. E se foi assim lá na antiguidade grega e medieval, também assim ocorre na modernidade dos nossos tempos. Podemos até perceber mais facilmente nos dias de hoje que o uso de termos como “lírica”, “lirismo” e mesmo “eu lírico” nasceram da existência comum destes dois grandes amantes: a música e a palavra escrita e falada.

Referências

• PASSOS, Lucas dos. A Dívida Indecisa: lembranças de uma esperança duvidosa em Paulo Leminski. Disponível em http://www.mafua.ufsc.br/numero12/ensaios/lucas.htm>. Acesso em 19 de jan. 2013

• Paulo Leminski. Disponível em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5276>. Acesso em 19 de jan. 2013

• Paulo Leminski. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Leminski>. Acesso em 19 de jan de 2013