O Amor e o Clichê na Poesia
É bem comum as pessoas quando iniciam no mundo da Poesia, seja como escritores ou como leitores, confundirem-na com textos que falam de Amor ou sentimentos dos mais íntimos, "profundos", dizem. Por tal motivo, sempre que tenho a oportunidade, indico a quem quer desbravar a arte poética que escreva sobre outros assuntos, para que não caiam neste clichê, e que deixem estes temas mais batidos para depois, quando já tiverem certa experiência.
Porque sim, uma Poesia pode muito bem falar de Amor. Porém, quanto mais manjado o tema, mais criatividade, técnica e "jogo de cintura" é preciso para sair do lugar-comum e diferenciar-se do oceano de poemas de qualidade muito baixa que se vê por aí.
Este post, portanto, é para demonstrar como isso é possível. Apresento dois exemplos, bem conhecidos, de como o mais usado dos assuntos, o Amor, pode ser matéria-prima para Poesia de altíssimo bom gosto e qualidade técnica.
Vejamos o primeiro, muito conhecido dos brasileiros por ter virado música em uma adaptação nomeada "Monte Castelo", feita por Renato Russo, da antiga banda Legião Urbana:
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Neste Soneto de Luís Vaz de Camões, o Amor é mostrado como um sentimento ambíguo, que nos faz sentir tão bem ao passo que nos faz mal. Impossível? Não para Camões e seus Oximoros (Segundo o dicionário Michaelis: "Engenhosa aliança de palavras ou frases contraditórias ou incongruentes, como música calada, humilhei-me tanto, tanto, que me elevei tão alto, tão alto...") presentes em quase todos os versos. Ou seja, o poema é todo construído com base em uma figura de linguagem específica, escolhida a dedo para ilustrar sua interpretação sobre o Amor. Camões cunhou seu Soneto em decassílabos, predominantemente o Heroico, com tônicas nas 6ª e 10ª sílabas fonéticas.
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