Experimentando sobre a fórmula geral do limerick, tipo de poema monostrófico, geralmente de cinco versos rimados conforme esquema:

1.ºA (octossílabo ou eneassílabo)
2.ºA (octossílabo ou eneassílabo)
3.ºB (pentassílabo ou hexassílabo)
4.ºB (pentassílabo ou hexassílabo)
5.ºA (octossílabo ou eneassílabo)

Há limericks de quatro versos, conforme o esquema:

1.ºA (octossílabo ou eneassílabo)
2.ºA (octossílabo ou eneassílabo)
3.ºB (pentassílabo ou hexassílabo)
4.ºA (octossílabo ou eneassílabo)

Tradicionalmente a temática é de teor humorístico, com elementos de absurdo (non-sense), sem qualquer preocupação com polidez ou correção política, pelo contrário, limericks das antigas não raro apresentam evidentes elementos de misoginia, racismo e xenofobia.Têm um quê de epigrama latino e canção de escárnio portuguesa, mas isso deve ser só impressão minha...No que se refere à forma, despertou minha atenção pela concisão, que não resvala no experimentalismo inócuo e beletrista de duplix, triplix, tetraplix e sabe-se lá quais –plix ainda virão...

O ritmo, em geral, é determinado pelo número de pés greco-latinos de cada verso, sendo tradicionalmente usados o anfíbraco ( – + – ) e o anapesto (– – + ) nas seguintes quantidades :

1.º, 2.º, 5.º versos : 3 pés : anfíbracos ( – + – ) ( – + – ) ( – + – ) [octossílabo]
anapestos (– – + ) (– – + ) (– – + ) [eneassílabo]

3.º, 4.º versos : 2 pés : anfíbracos ( – + – ) ( – + – ) [pentassílabo]
anapestos (– – + ) (– – + ) [hexassílabo]

De maneira que o poema que use pés anfíbracos terá versos de 8 e 5 sílabas poéticas, enquanto que o poema baseado em anapestos terá versos de 9 e 6 sílabas poéticas.Lembrando aos não tão familiarizados com versificação que as sílabas poéticas são contadas apenas até a última sílaba tônica.

A seguir, exemplos de minha incursão no mundo dos limericks (mais próximos do tradicional mas flertando com o universo infantil), abrangendo as duas possibilidades citadas, que, necessário dizer, não esgotam o assunto nem são definitivas.



X,1.

Quem já viu tartaruga voando?
Eu já vi!Quer saber como e quando?
Foi presente barato,
Joguei longe no ato!
E lá vai tartaruga, voando...

X,2.

Ganhei de presente um quelônio –
Não é tartaruga, é um demônio
Que não há mais feia!
Vou dá-la – que idéia!
Ou para a Beatriz ou pro Antônio...

X,3.

Tartaruga que preste?Só morta
Ou de pedra, escorando uma porta...
Cozinhá-la!Quem topa
Preparar minha sopa?
Ou, quem sabe, fazer uma torta...

X,4.

Cansei dessa história de bicho
Que deram por puro capricho.
Que tia mais tonta...
Segredo!Não conta
Mas jogo essa coisa no lixo!

 
Outros exemplos, fugindo totalmente da temática infantil, e afrouxando um pouco o espartilho métrico mas ainda assim mantendo a idéia estrutural peculiar à forma :

LIII,1.

Ariadne já deu tanto
Que agora nem me espanto
Se alguém diz : ‘Comi!’
E, pra resumir,
Faz tudo e em qualquer canto.

LIII,2.

Ariadne é uma galinha :
Com machos perde a linha
E às dúzias fode.
Como é que pode?
Deu até o que não tinha...

LIII,3.

Seu nome é Ariadne e lá no fundo
Só quer trepar com todo mundo.
Varia : da orgia
À capelania
Não vai levar mais que um segundo...

LIII,4.

Quer Ariadne?Entra na fila
Com paciência na mochila :
Tem muita gente
Na sua frente.
Pede mais uma tequila.

XL,7.

Seu nome é Anna Frankenstein.
Não é modelo Calvin Klein.
Gosta de chucrutes
Até demais..., putz!
Bariátrica resolve? 'Nein!'








 
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 22/01/2013
Reeditado em 30/10/2014
Código do texto: T4099315
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.