O DISCURSO POSSESSIVO
Para o iniciante (o que não tem a prática) é muito difícil fazer poemas com Poesia, porque em regra o texto é AUTOBIOGRÁFICO, o seu autor se sente dono dele, por possessão afetiva. O bom (e verdadeiro) poema é sempre um exemplar exercício de Confraternidade – latente e perceptível – que permita conduzir à Universalidade de entendimento e compreensão do conteúdo por parte de todo o leitor. Chega-se, por elas, à espiritualidade. É raro o novato fazer o poema na terceira pessoa. A regra é que seja concebido na primeira, ou seja, nos domínios do EU. E aí se vai a Poesia, ficam somente os versos e o seu discurso individualista... Só muito mais tarde (aos mais de 10 anos de praticância) é que o autor vai reconhecer os seus diversos alter egos, como acontece com os heterônimos do genial Fernando Pessoa e ele-mesmo-o outro. O espiritual do leitor/receptor percebe a sua excludência: o autor não consegue empatia para com a sua proposta, prenhe de “eus” (ele e somente ele) e de pronomes possessivos, todos plenamente desnecessários.
– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012/13.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4081508