Schwarz e o Poeta Modernista
Na tentativa de mais uma vez desmistificar as sutis contradições da Literatura Brasileira, Roberto Schwarz, mantendo-se fiel ao seu estilo literário, esboça uma análise intensa e provocativa de um poema, de Oswald de Andrade, também intenso e provocativo. A provocação delineada se mostra sem demora no início do artigo “A carroça, o bonde e o poeta modernista” que abre caminhos para a obra intitulada “Que Horas São?”, ao relatar que Oswald de Andrade “inventou uma fórmula fácil” de representar o Brasil por meio da literatura. Essa fórmula, que ironicamente foi descrita como uma receita simples, tratava-se exatamente da enorme dificuldade de difundir as chamadas cultura culta e cultura popular.
Schwarz se aventura, não sem ventura, a pintar e afirmar Oswald de Andrade como um artista sério, por oposição à fama de piadista. Partindo da tese do artista de que é preciso que o moderno se encontre com o arcaico, Schwarz vai construir todo um argumento na intenção de voltar as atenções às contradições políticas e estéticas do Brasil. Afirmar que a confluência entre o simples e o genial não se trata de configurar uma imagem negativa do país, mas dizer que esse contraste é parte do país. Formalidade informal. O moderno e o arcaico. A carroça e o bonde.
Surge nessas intenções a grande questão: o que é a cultura brasileira? Será a cultura refinada presente nas mãos da burguesia? Ou deverá ser a cultura presente nas cantigas populares embasadas na rusticidade; na metade da sociedade tida como atrasada? Ou ainda, a cultura brasileira é um objeto moldado pelo pluralismo cultural? Tarefa difícil a der estabelecer um padrão cultural.
Todas essas questões estão pautadas na tese de Oswald de Andrade e formulam o quadro da arte no Brasil de sua época. Logo que nos nossos dias ainda lidamos com as mesmas interrogações e apesar do bonde insistir em percorrer sozinho, sutilmente a carroça invade os trilhos: e é o conjunto desconjuntado que rege o caminho de ambos.