CRITÉRIOS DE BELEZA

Quase sempre a figura do condenado ao pensar é feia, não possui o belo compulsado nos parâmetros usuais da beleza física. Escrever é, quase sempre, contrapor o feio de nós à fealdade do outro, ao estrambótico – ao que nos pune e compunge. Também àquilo que nos reprime e fere, por adverso ao sentir da humanidade, e induz a produzir o belo estético a partir dessa matéria disforme de beleza e doçura – transmutando-o. Desta sorte, o mundo lírico se faz ameno pela beleza lavrada (quase sempre) no húmus das perdas do amar e o consequente choro, especialmente na poesia feminina. E como o interior não é perceptível por quem observa de fora, somente o mergulho em profundidade – no contingencial da obra escrita – pode vir a surtir paixão pelo texto produzido e a louvação da beleza incomum do autor ou autora, transeuntes comuns nas veredas do viver. Formosura esta que tem a aura do etéreo, sobrepairando como uma coroa angélica. Mas a história relatada na obra dificilmente é assim tão angelical e bela. É regra geral que a beleza corpórea dificilmente produz o inventor estético de talento. Até porque os neurônios da origem são tão feinhos em sua estrutura...

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 01: O Exercício do Sentir Poético. Porto Alegre: Evangraf, 2016, p. 20.

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