O CRÍTICO LITERÁRIO NÃO É COAUTOR
”Eu aprecio a crítica literária, mas o povo a confunde com censura, e até quem se julga um bom escritor, concordas?”
– Eliane Arruda, via Facebook, em 19/11/2012.
Eliane Arruda! Sim, em geral, todo o escriba entende que se basta em sua criação, especialmente os poetas, talvez pelo vício de acharem que a "inspiração" – sozinha – pode produzir o poema em sua forma definitiva, esquecendo que o processo de criação tem dois momentos... E o autor pode até não ter aprendido a aceitar ou não faz o processo da "transpiração", que é aquele em que prevalece a intelecção e acaba por definir a forma conceptual e o formato final do poema, que são os continentes do conteúdo poético. Ora, se o criador não sabe ou não está apto para aceitar e construir esse segundo momento crítico pessoal – A TRANSPIRAÇÃO – como receberá de bom grado e poderá vir a entender as sugestões do analista crítico sobre o seu texto? A maioria dos criadores novos e novatos entende a participação do crítico como uma interferência sobre o seu processo intuitivo. Somente o tempo e processo advindo do amadurecimento permitirá que o autor receba bem a análise literária. E tem algo mais: o autor/criador tem de ser, antes de tudo, um bom leitor. Esse exercício (da leitura) passará, naturalmente, a exigir dele revisões no texto original. E o analista passa a ser o amigo de todas as suas horas de reflexão, até chegar à intimidade de sua criação poética, sem que o criador original tenha de dar ao analista a coautoria do texto. Este é, apenas, um cocriador em segundo plano... O crítico literário é um profissional a serviço da materialidade da Poesia e discutirá a sua adequação (ou não) aos moldes da contemporaneidade, com o fito de alertar para a construção do bom poema, dentro de um plano estético já formatado. Quase sempre o poema fica melhor com o auxílio do analista. Ganham o autor e o leitor...
– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02. Porto Alegre, Evangraf, 2016, p. 102.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3995524