Quimera de Escrevinhador
Saramago diz que “Temos que acreditar nalguma coisa, e sobretudo temos de ter um sentimento de responsabilidade coletiva, segundo o qual cada um de nós seja responsável por todos os outros”.
O escritor, é bem verdade, tem suas responsabilidades multiplicadas, ele espalha os filhos de suas letras pelos corações e mentes durante a vida e muitas vezes ainda depois dela.
Aquele que escolhe distribuir tramas entre os pequenos e os jovens deve ser ainda mais cuidadoso.
Deve escrever histórias que enlouqueçam os relógios, fazendo o tempo passar mais rápido enquanto as estamos lendo.
Não deve falar apenas de heróis para mostrar que a inteligência, como as virtudes cobradas, mormente na infância, nunca foram, nem serão prerrogativa exclusiva de bons e de belos.
Deve mostrar que conceitos e verdades são efêmeros e mutáveis e que cada um tem a liberdade de inventar-se e reinventar-se sempre que for necessário.
Não deve ser inconsciente ao optar seguir fórmulas ou modismos.
Deve indicar caminhos de tijolos amarelos que levem para reinos distantes, para outros planetas, épocas passadas ou futuras e faça o leitor olhar para frente, para cima, e para os lados, podendo assim bem interpretar o que lhe vai por dentro.
Não deve escrever apenas o que os adultos querem que as crianças e os jovens leiam.
Deve acreditar que é possível melhorar o mundo de todos ou um mundo de alguém ao semear histórias que sejam o objeto de desejo, para serem lidas, durante anos, antes do sono, como a melhor forma de alimentar os sonhos.
Não deve nunca crer estar pronto para poder abraçar continuamente o caminho da transformação.
Deve ter esperança de que suas palavras possam ser mais que testemunhas do tempo, onde direitos e deveres não sejam apenas declarações.
Mas particularmente não deve nunca para de imaginar títulos melhores do que este!