A INTIMIDADE DA CRIAÇÃO POÉTICA

Não há veredictos definitivos em Arte, especialmente em Poética. O que se pode assegurar é a visão pessoalíssima do receptor que recria, em cima da proposta textual consumida – e faz a sua reconstrução estética. Normalmente, este é o trabalho de uma pessoa com experiência no ramo e que procura atender ao pedido de seus amigos, especialmente novatos em arte poética. Lembro que cada pessoa forma opinião diversificada sobre uma proposta estética. O que o crítico pode não apreciar, é, possivelmente, algo que outro leitor vai gostar. Em arte, cada um se apossa do texto ou de uma parte dele, sempre segundo a sua visão de mundo e de como o concebe... São os valores estéticos que nortearão a construção da análise crítica. Porém, dá para se aproveitar a instigação e fazer um razoável juízo de autor, quando o analista se torna confiável para o criticado. É aí que começa a INTIMIDADE INTELECTUAL entre o crítico e o criticado. Minimizam-se as antíteses, ou elas são secundadas pelas sínteses do pensamento (segundo Hegel), e isso pode ser percebido no texto poético, que ganha em qualidade estética, através dos exercícios de oficinação. O resultado estético é a simbiose das visões do criador e do crítico. É necessário que o autor esteja preparado para receber a crítica e aceitar o resultado como fruto dessa simbiose. Se o autor desejar melhoras segundo essa prática, num Brasil em que se lê muito pouco e há poucos expoentes críticos, só há dois caminhos: 1) participar dos concursos, a fim de ter a sua obra avaliada pelos jurados do certame literário; 2) pedir a análise crítica sobre a obra, para ver se o estudo analítico contém algo que possa vir a ser útil para a peça em exame, e, num futuro, obter possível ampliação da visão de mundo. Esse proceder leva período de tempo impossível de se prever, e não é algo simples, porque atinge os escaninhos do pensamento e da concepção pessoal. É matéria que dá muito pano pra manga...

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

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