PLEONASMO NO TÍTULO DO POEMA
Em pauta o poema "INAUGURAL", que considero uma razoável peça quanto à qualidade estética. Enfim, gosto dele. Quando da publicação inicial, no começo do ano (e agora já é outubro), o nome do mesmo era "INAUGURAÇÃO DO AMANHÃ", já tendo sido visto em duas revistas que considero respeitáveis. Não hesitei, troquei o título para lhe dar leveza e fugir do pleonasmo: o que se inaugura é sempre para o futuro, para o amanhã, o “after day” . Olha-se pra frente, não se pretende reexaminar o passado. No caso, foi difícil identificá-lo – pouco se percebia o rebarbativo. Havia uma quase implicitude. O título anterior tornava o poema pesado, um tanto gongórico ou alusivo. Ele tem, realmente, algo de insolente ao dia seguinte, mas não lhe desejava impositivo, pesado ao leitor. Ao apresentar o escrito a José Paulo Bisol, o poeta e filósofo prefaciador de meu livro "A POESIA SEM SEGREDOS", ele apontou a precariedade formal e indicativa, no caso. De pronto me apercebi (indo além, na proposta) que havia 'corpus' diferenciado entre o título anteriormente usado e o conteúdo dos versos, que são, em sua maioria, de pouco peso reflexivo, exceto a estrofe inicial e os segundo e terceiro versos da estrofe final. Faço o registro, de público, a fim de que, por analogia do caso, possa vir a ser útil aos estudiosos da elaboração de versos.
“INAUGURAL
Joaquim Moncks
A insônia acorda todos os silêncios.
Sinos badalam nos olhos a insurgência.
A alma ereta tartamudeia inquietudes.
O hoje é o ontem bocejando a esperança.
O tempo parece não haver nascido antes.
Dentro de mim – por pirraça – o dia
recusa o nascimento.
A única mágica possível é o estar vivo
sob todos poros e esperanças.
Somente a Poesia percebe a insolência
da palavra
e solfeja num sonolento bocejo:
– Festejemos o dia seguinte,
nele está o futuro, de lambuja...
No jardim, levantam-se os girassois
e o sol inaugura a manhã sem alarde
nem bocejos de cansaços.
A insônia acorda todos os silêncios.”
Pelo que observo, são poucos os poetas que conversam com suas peças poéticas. E este diálogo entre o ego e o alter ego (fora da costumeira intuição) é excepcionalmente importante. Até mesmo quando o poema tem certo ar de informalidade – como é a tônica da maioria dos poemas ditos vanguardistas – a todo e qualquer tempo. Até a extensiva licenciosidade poética se dobra a essas exigências de entendimento para o concepto do poema. A estética tem disso...
MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2012/22.
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