O POEMA VEM À LUZ

No ato intuitivo de criar o poema, prevalece a sensibilidade emotiva do autor e suas vivências. No segundo momento, a ação intelectiva tem de pegar a sensibilidade do leitor. O que ora afirmo só ocorre no autor experimentado, aquele que já se comprometeu com o processo de criação e consegue ver o outro polo – aquele que vai consumir o texto. O fazedor do poema passa a pressupor como o leitor fará a recepção e como o dito poético vai lhe sugerir o inusitado do “estranhamento” que a peça artística produzirá nele ou não, no ato da leitura do escrito, quando ele está bebendo o ludismo que está sendo celebrado pelas palavras. O ato inspirado sugere o poema, mas quem lhe dá forma – efetiva e definitivamente – é a ação intelectiva sobre o que veio como “quem chega do nada”: palavras. Singelas e nuas palavras encaixadas numa moldura espacial que tem o desafio de “encantar” ou “alumbrar” o eventual receptor. A obra poética nunca pressupõe quem lhe será o destinatário, exceto quando a especificidade temática pretende um público-alvo. Todavia, isso não ocorre individualmente, e o seu leitor aleatório a amará ou terá por ela indiferença ou até aversão pela sua proposta, mas, por certo, não lhe passará despercebida. Assim como ocorre no mundo das realidades, entre pessoas e até entre elas, bichos e coisas, tudo é possível no mundo dos signos estéticos da arte poética.

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3902152