O SUPLÍCIO DA INSATISFAÇÃO

Quando a vontade poética vem, resta deixar o "alter ego" escrever as primeiras pinceladas dos versos. Porque não é o ego quem produz, cria ou materializa o poema, e sim aquele que está dentro de ti como um hóspede indesejável – que a tudo critica – por insatisfeito frente ao mundo que o rodeia: a boca do inferno. É justamente o estado de insatisfação a placenta do poema nunca acabado. E ela vivifica-se, curiosamente, nesse estado angustioso de inquietação. E é o espiritual pessoalíssimo – lúcido – aquele que ratifica o poema em sua segunda fase de criação: a transpiração. Mesmo que depois pareça bonito aos olhos dos outros, é esse suplício transposto que ainda o faz mais vivo dentro de nós.

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

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