POEMA EM PROSA OU PROSA POÉTICA
A poesia pode estar contida numa linguagem versificada ou em prosa. Quando ocorre a segunda possibilidade, dá-se o poema em prosa ou prosa poética. De modo geral, haverá prosa poética quando concorrem as seguintes características:
a) conteúdo lírico ou emotivo;
b) recriação lírica da realidade;
c) utilização artística do poético;
d) linguagem conotativa.
Esta última é chamada por Matila Ghyka como “carga lírica” das palavras, devido à capacidade que elas têm de sugerir ideias, visões, imagens, por meio de imitações sonoras, melodiosas e rítmicas.
Exemplos: “Sol, rei astral, deus dos sidérios Azuis, que fazes cantar de luz os prados verdes, cantar as águas! Sol imortal, pagão que simboliza a Vida, a Fecundidade! Luminoso sangue original que alimentas o pulmão da terra, o seio virgem da natureza!
Dá que eu não ouça jamais, nunca mais! A miraculosa caixa de música dos discursos formidáveis! E que eu ria, ria – ria simbolicamente, infinitamente, até o riso alastrar, derramar-se, dispersar-se enfim pelo Universo e subir, nos fluidos do ar, para lá no foco enorme onde vives, Astro, onde ardes, Sol, dando então assim mais brilho à tua chama, mais intensidade ao teu clarão.
Pelo cintilar dos teus raios, pelas ondas fulvas, flavas, ó Espírito da irradiação! Pelos cumprimentos das auroras, pela clorose virgem das estepes da Lua, pela clara serenidade das Estrelas, brancas e castas noviças geradas do teu fulgor, faculta-me a Graça real, magnificente poder de rir – rir e amar, perpetuamente rir, perpetuamente amar.” (Cruz e Sousa, in “Oração ao Sol”, do livro Missal.)
“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; verdes mares que brilhais, como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros!” (José de Alencar, in “Iracema”.)
Pode-se até dispor o período alencariano em forma de versos:
Verdes mares bravios (6)
Da minha terra natal (7)
Onde canta a jandaia (6)
Nas frondes da carnaúba (7)
Verdes mares que brilhais (7)
Como líquida esmeralda (7)
Aos raios do sol nascente (7)
Perlongando alvas praias (7)
Ensombradas de coqueiros (7)
O ritmo melódico pode ser encontrado na prosa poética, mas dela não constitui elemento fundamental. Se assim fosse, teríamos prosa versificada, o que não é o mesmo. Ele pode ( como muitas vezes acontece) ser simultâneo com outros elementos, mas não como primacial. Outros exemplos:
“Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente do drama da conquista, que de majestade e de tristura não exprimes, venerável epônimo dos campos!” ( Afonso Arinos, in “Buriti Perdido”, do “ Pelo Sertão”.)
“Era por uma dessas noites vagarosas do inverno, em que o brilho do céu sem Lua é vivo e trêmulo; em que o gemer das selvas é profundo e longo; em que a soledade das praias e ribas fragosas do oceano é absoluta e tétrica.” ( Alexandre Herculano, in “Eurico, o Presbítero”.)
E este trecho semelhante de Castro Alves, no “prólogo” de suas “Espumas Flutuantes”:
“Era por uma dessas tardes em que o azul do céu oriental - é pálido e saudoso, em que o rumor do vento nas vergas – é monótono e cadente, e o quebro da vaga na amurada do navio – é queixoso e tétrico.”
A prosa divide-se em:
a) narrativa
b) descritiva
c) dissertativa
Os versos podem ser livres ou de forma fixa, destes sendo exemplos o soneto, quadra, redondilhas, etc.
* Contudo, o que mais se vê por aqui são publicações de textos classificados como prosa poética, mas dispostos em versos.
Em síntese: entenda-se por prosa, aquilo que não é verso. Prosa poética = de conteúdo poético.
__________________
Fonte: Tavares, HÊNIO. Teoria Literária. Ed. Itatiaia Ltda.
A poesia pode estar contida numa linguagem versificada ou em prosa. Quando ocorre a segunda possibilidade, dá-se o poema em prosa ou prosa poética. De modo geral, haverá prosa poética quando concorrem as seguintes características:
a) conteúdo lírico ou emotivo;
b) recriação lírica da realidade;
c) utilização artística do poético;
d) linguagem conotativa.
Esta última é chamada por Matila Ghyka como “carga lírica” das palavras, devido à capacidade que elas têm de sugerir ideias, visões, imagens, por meio de imitações sonoras, melodiosas e rítmicas.
Exemplos: “Sol, rei astral, deus dos sidérios Azuis, que fazes cantar de luz os prados verdes, cantar as águas! Sol imortal, pagão que simboliza a Vida, a Fecundidade! Luminoso sangue original que alimentas o pulmão da terra, o seio virgem da natureza!
Dá que eu não ouça jamais, nunca mais! A miraculosa caixa de música dos discursos formidáveis! E que eu ria, ria – ria simbolicamente, infinitamente, até o riso alastrar, derramar-se, dispersar-se enfim pelo Universo e subir, nos fluidos do ar, para lá no foco enorme onde vives, Astro, onde ardes, Sol, dando então assim mais brilho à tua chama, mais intensidade ao teu clarão.
Pelo cintilar dos teus raios, pelas ondas fulvas, flavas, ó Espírito da irradiação! Pelos cumprimentos das auroras, pela clorose virgem das estepes da Lua, pela clara serenidade das Estrelas, brancas e castas noviças geradas do teu fulgor, faculta-me a Graça real, magnificente poder de rir – rir e amar, perpetuamente rir, perpetuamente amar.” (Cruz e Sousa, in “Oração ao Sol”, do livro Missal.)
“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; verdes mares que brilhais, como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros!” (José de Alencar, in “Iracema”.)
Pode-se até dispor o período alencariano em forma de versos:
Verdes mares bravios (6)
Da minha terra natal (7)
Onde canta a jandaia (6)
Nas frondes da carnaúba (7)
Verdes mares que brilhais (7)
Como líquida esmeralda (7)
Aos raios do sol nascente (7)
Perlongando alvas praias (7)
Ensombradas de coqueiros (7)
O ritmo melódico pode ser encontrado na prosa poética, mas dela não constitui elemento fundamental. Se assim fosse, teríamos prosa versificada, o que não é o mesmo. Ele pode ( como muitas vezes acontece) ser simultâneo com outros elementos, mas não como primacial. Outros exemplos:
“Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente do drama da conquista, que de majestade e de tristura não exprimes, venerável epônimo dos campos!” ( Afonso Arinos, in “Buriti Perdido”, do “ Pelo Sertão”.)
“Era por uma dessas noites vagarosas do inverno, em que o brilho do céu sem Lua é vivo e trêmulo; em que o gemer das selvas é profundo e longo; em que a soledade das praias e ribas fragosas do oceano é absoluta e tétrica.” ( Alexandre Herculano, in “Eurico, o Presbítero”.)
E este trecho semelhante de Castro Alves, no “prólogo” de suas “Espumas Flutuantes”:
“Era por uma dessas tardes em que o azul do céu oriental - é pálido e saudoso, em que o rumor do vento nas vergas – é monótono e cadente, e o quebro da vaga na amurada do navio – é queixoso e tétrico.”
A prosa divide-se em:
a) narrativa
b) descritiva
c) dissertativa
Os versos podem ser livres ou de forma fixa, destes sendo exemplos o soneto, quadra, redondilhas, etc.
* Contudo, o que mais se vê por aqui são publicações de textos classificados como prosa poética, mas dispostos em versos.
Em síntese: entenda-se por prosa, aquilo que não é verso. Prosa poética = de conteúdo poético.
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Fonte: Tavares, HÊNIO. Teoria Literária. Ed. Itatiaia Ltda.