A Negritude na Contemporaneidade
A negritude é um assunto bastante comentado hoje, principalmente após o início do século XX, quando artistas e intelectuais juntam-se em busca do que é “ser Brasil” e qual a verdadeira identidade de nosso país. Então, fazendo questionamentos como esse, percebe-se que o Brasil é, na realidade, uma mistura cultural e é da miscigenação do branco, índio e negro que se forma o país. É desse último (o negro) o objeto de estudo.
É certo que o tema negritude abranja muitas definições/concepções, mas a que nos remete como estudo literário é que não só no Brasil, como em outros países do Novo Mundo, o preconceito contra o negro foi e ainda é um dos mais arraigados em nossa experiência histórica, em virtude do século de escravidão e o principal motivo que o negro possui para ser tão negativamente estereotipado é o defeito de possuir uma cor que diferencia do homem europeu. Trata-se de uma cor que é tão negativizada desde as raízes bíblicas ocidentais, pois nela mostra bem claramente a dicotomia entre o bem (a cor branca, clara e pura) e o mal (o negro, o negativo, a escuridão).
Então, o modo como o branco vê o negro, portanto, foi moldado desde a infância pela história que a negritude era associada ao mal e quem fazia o mal eram os negros. Palavras como essas eram passadas de geração em geração até os dias atuais, pois ainda é visível observar algumas pessoas apresentando preconceito perante a cor negra.
Ao observar esses fatos, a Literatura entra e participa em retratar alguns fatos passados na história de nosso país, pois a arte literária nada mais é do que um fenômeno produzido pelo homem que tem continuidade de acordo com o tempo, o momento e a história; uma vez que, de acordo com o período em vigor, vai retratar tal tema a partir do ponto de vista do artista e das marcas que o período literário deixa nele.
Esse tema, na literatura, pode-se apresentar de diferentes maneiras no decorrer dos séculos no Brasil. No Romantismo, por exemplo, o negro quase não era tocado, uma vez que a arte romântica espelhava-se na Europa e quando esse movimento literário vai tocar nesse assunto – a escravidão negra - foi em “A Escrava Isaura” de Bernardo Guimarães; porém se tratava de uma escrava branca, ou seja, no Romantismo o negro não tinha vez como protagonista de uma obra; apesar de o poeta Castro Álvares em “Navio Negreiro” já mostrar, de forma poética, o drama dos negros como produto de exportação para o Brasil colônia. No Realismo, por estar em um período de transição entre escravidão e abolição, há resquício de negros como escravos das chamadas “Casas Grandes” – as negras apresentavam-se como as amas de leite, as criadoras dos filhos dos “sinhozinhos” e os negros como os que obedecem as ordens, como é bem visto em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis. Já no Naturalismo, há o aparecimento de um mulato como protagonista que sofre por ser fruto da raça negra e, portanto, é bastante negativizado pela aristocracia da época – “O Mulato” de Aluízio de Azevedo.
No Simbolismo há o poeta negro, Cruz e Souza, que foge da sua herança racial para entregar-se as cores “alvas, brancas e claras”, como palavras-chave de suas raízes poéticas (trata-se do poeta negro de alma branca). No Pré-modernismo, porém, a partir de figuras como Lima Barreto e , principalmente, Monteiro Lobato, com os contos “Os Negros” e “A Negrinha”, mostram o que é sofrer como um negro na época da escravidão e viver como um negro, através das marcas culturais, como a religião e o modo de falar.
Enfim, a negritude é um tema polêmico que é bem visto e respeitado nos dias de hoje e a Literatura já mostra suas raízes como uma arte que, a sua maneira, retrata a realidade de um povo e romances como Viva o Povo Brasileiro e A República dos Bugres, além de mostrarem uma nova visão acerca da história oficial do Brasil, revivem vozes negras, que assumem papel de narradores ou de personagens importantes para a formação da obra, tal qual foi marcante a presença negra para a nossa formação enquanto cidadãos brasileiros que somos.