ENQUANTO FREUD EXPLICA

DOIS DENTRE OS MAIS BELOS LIVROS produzidos pela humanidade são, em minha humilde opinião, 'O futuro de uma ilusão' e 'O mal-estar na civilização', ambos de Freud. São realmente livros magníficos. Toda pessoa minimamente letrada deveia ler. Chegam a me emocionar. Sobretudo O futuro de uma ilusão. Não sei se há esta definição, mas eu estou chamando eles de "escritos sociais de Freud". Como seria se Freud estivesse produzindo hoje? Que coisas diria? Pois se ele escrevendo para uma Europa entre guerras já conseguia falar tão forte para nós, pessoas do futuro, imagine se fosse nosso contemporâneo... Sabemos, por exemplo, que àquela época e lugar a figura paterna tinha uma importância muito maior do que hoje... Isso até pode impor uma ou outra restrição ao texto. Refiro-me aqui à sua abordagem que tenta explicar como a figura de um Deus entra na civilização em substituição de algo perdido na infância... ao desamparo da vida adulta, na qual deixamos de ter a proteção do pai - entre várias outras explicações. A religião apresentada como um "trauma de infância". Ficando a esperança de que um dia a humanidade - em ininterrupta evolução - prescinda da figura paterna protetora. Da mesma forma um dia abandonou os totens.

Pensando em tudo o que ele diz nos dois livros, em outras palavras, sobre religião, arte, trabalho, a idéia de amor, como técnicas que a humanidade usou para forjar uma felicidade que acaba sendo muito breve, pelo fato de que nada pode substituir a satisfação dos instintos básicos, e nisso, a satisfação dos desejos por comida e sexo. Tudo parece tão claro, tão aceitável. E como inventamos projetos em cultura, arte, ciência - somos pessoas civilizadas e isso é parte indelével de nossas vidas -, quando do que mais precisaríamos, na verdade, é de boas sessões de sexo bem faminto e curioso. Ainda mais frente ao nosso profundo desapontamento com essa sociedade, com seus valores. Valores que, definitivamente, não nos deixam "à vontade".

De toda forma, é claro que trabalho, ciência e arte (e religião para a maioria) acabam dando uma força. Talvez mesmo não gostássemos de abrir os olhos. Talvez nos desagradasse aquilo que viéssemos vislumbrar. Talvez isso nos doesse demais. Então dormimos enquanto Freud explica as coisas da vida. Bons sonhos para a humanidade!