DA POESIA E DAS METÁFORAS

Fuçando no Recanto das Letras – site para escritores – abro o arquivo, atraído pelo título do poema. A net tem dessas coisas: o leitor, curioso e irrequieto, fica louco pra saber o que está do outro lado da palavra-título... Vejamos o poema:

“AS VÍSCERAS DO MUNDO

Álvaro Conde Muniz Garcia

O amor desce às ruas

de cimento,

de areia,

de pedra

- infinitivamente;

porque tem corpo e

cansa,

porque é preciso

questionar

a imensidão.

Por isto,

a carne, a volúpia;

por isto,

a poesia.

Publicado no Recanto das Letras em 09/06/2010.

Código do texto: T2309402”.

– nosso comentário em 09/06/2010, 17h02min:

Na peça poética, metáforas rarefeitas e ralas... A finalística do conteúdo está boa. Sabes por que os símbolos gráficos? Porque temos de respirar (ou suspirar, no poema lírico-amoroso), e Poesia é um respirar rítmico. Respirar breve: vírgula; respirar médio: ponto e vírgula; respirar longo: ponto. Assim, o primeiro conjunto pensamental vai até "... tem corpo e cansa. Aqui vai um ponto. O restante da estrofe é outro verso. Segue-se: "... por isto, (por esta razão)/ a carne, a volúpia. Por ISSO (por ESSA razão)/ a Poesia (com "pê" maiúsculo = o gênero literário, e não a poesia = o poema). Acaso eu fosse o autor, escreveria o texto em prosa, porque, a rigor, se trata do hibridismo Prosa Poética, e não de um poema (com Poesia). Na Poesia, as metáforas são profundas; na Prosa Poética, são superficiais. Todavia, torna-se imperioso examinar o que ensina Massaud Moisés, em “A Análise Literária”, São Paulo, Cultrix, 12ª ed., 2000, p. 84: “E ao passo que a metáfora poética é polivalente, a metáfora da prosa tende à univalência, ou por outra, ao passo que a poesia lança mão de signos conotativos, a prosa exprime-se acima de tudo em linguagem denotativa. Obviamente, a linguagem da prosa não é pura denotação, pois neste caso perderia sua feição artística, mas dela se aproxima na medida em que o prosador assume, geralmente, atitudes diretas em face da Natureza e dos homens, à procura de ser tão explícito quanto possível.”. No texto em prosa (conto, crônica, novela, romance) ao estilo usual, as metáforas são quase inexistentes no texto, devido ao sentido denotativo, que é o comumente utilizado, se este sentido for a tônica do assunto abordado no texto. Perdão se eu procuro detalhar, porém esta matéria não é tão óbvia assim – pode apresentar dúvidas ao entendimento do receptor. Qual a função gramatical, semântica e/ou de ornato, do artigo "As", que figura na titulação da peça? Só pra criar uma cacofonia? Portanto, "Vísceras do mundo" (sem o artigo definido no plural) é a única metáfora profunda e universalista – na peça – e me parece que deveria ser o título... E tu, leitor, o que achas da sugestão?

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3675130