LITERATURA LEVE OU LITERATURA LIXO EXISTE?
* Nadir Silveira Dias
Atento ao questionamento que fazem os amigos Mauro Testa e os demais integrantes de La Buhardilla, apresso-me em tentar responder com a isenção possível que o tema merece, reproduzindo as perguntas e respondendo-as a seguir:
1- ¿Existe la literatura light?, En ese caso, ¿cómo la definiría? Rasgos, características.
Literatura leve ou literatura lixo se opõe à literatura densa, literatura plena ou aquela que se opõe ao lixo, vale dizer literatura boa, literatura que presta, literatura que se aproveita, da qual não desejamos nos desfazer, não a queremos jogar no lixo. A literatura lixo, portanto, existe sim, ou não existe, dependendo tal conclusão apenas do âmbito de avaliação, da análise que desejarmos fazer sobre as letras que viermos a pôr sob o foco da nossa apreciação.
Sendo sabido que literatura corresponde pura e simplesmente às letras compostas de um certo jeito, antes de ser ciência, disciplina ou qualquer outro qualificativo que lhe venhamos a pôr, não será inoportuno afirmar que tudo que se expresse por letras será ou poderá ser literatura. Essa conclusão só depende da ótica de quem a vê, e do pensamento dominante na ocasião, da época em que é produzida, e da época em que é analisada. De qualquer modo, creio que vale a lembrança de que nada é definitivo: Rovílio Costa, premiado poeta e escritor brasileiro radicado em Porto Alegre tem oitenta e um (81) exemplares diferentes da Bíblia Católica, ao longo dos tempos.
Vale ainda, a propósito, relembrar que todas as épocas apresentam textos literários de todos os naipes que são considerados de maior, de menor, ou de valor algum para este ou para aquele âmbito de análise. Apesar disso, são estudados, lidos, traduzidos e/ou analisados. São produções da raça humana que não podem ser tidas por não existentes. Se valem ou não, para isto ou para aquilo, já será outro problema. Isso sem falar naquelas produções impressas nas cavernas, ou das rupestres, na parte externa dos rochedos, que o tempo, afinal, se encarregou de fazer não chegar a nós. Como aquelas da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, possivelmente gravada pelos fenícios, segundo os especialistas, e não destruídas pela ação do tempo.
Essa temática sobre literatura que não seja literatura é antiga e em especial das revistas feitas para jovens e adolescentes, que se desdobram em temáticas de amor inocente ou de picantes enredos para iniciação sexual, estas últimas hoje de todo ultrapassadas. Mas também poderíamos incluir, se fosse o caso, os contos policiais, românticos, aventurescos, com belas mulheres que matam por qualquer coisa, caso sejam molestadas pelos bandidos.
Aliás, discute-se até se os livros de auto-ajuda ou os de magos são ou não são literatura. E aí temos que voltar ao início. Literatura, por extensão, é tudo que se escreve. Tecnicamente, será ou não. E aqui já cabe ou caberia outra pergunta: E se o tal texto escrito não for nenhum destes que os técnicos consideram como tal? Não haverá literatura no texto em questão? Não se poderá criar uma nova modalidade ainda não catalogada? A resposta me parece óbvia: Claro que poderá ser literatura sim. Até as epístolas se constituem em literatura. O que importa em qualquer coisa, afinal, é se presta ou não presta. Se serve ou não serve.
2- ¿Qué opinión le merece este género o categoría?
Todos os escritos que possam ser considerados como literatura leve ou literatura lixo por quem se dedique a catalogar os textos que leia, para mim serão exatamente o que forem: Ao destino para o qual servem: distrair, divertir, ler sem compromisso nenhum de aprendizado. Leitura de mero deleite ou de fantasia, tanto faz, se servirem, então não podem ser recriminados. A recriminação é parte de fase antecedente onde se instrui, direciona o estudante, o aprendiz para coisas que o mestre, professor, instrutor, pai ou mãe, considere de maior relevância e aí não vale apenar mandar. Tem que convencer pelo argumento, pela ciência demonstrada de que a que indica é melhor do que a outra que se indica evitar, reduzir, ou minimizar.
Para mim, procuro imprimir a tônica de que qualquer escrito deve conduzir a um resultado de aprendizado, sem desprezar um tanto de diletantismo, de recreio para o espírito. No entanto, sei, sabe-se, sabemos, da existência de autores que apenas trabalham para a distração dos leitores. E aí, parece-me, se não houver estrutura formada no indivíduo que lê, ela – obra produzida, literatura ou não – servirá para quê? Apenas para vantagem dos autores, editores, distribuidores, bancas e bancas, pois esta ‘literatura leve’ é ainda muito vendida, muito comprada por jovens e também por adultos.
Ao mesmo tempo em que não se compreende porque não são vencidos os óbices e as dificuldades para um melhor aprendizado, se compreende menos ainda como podem ser despendidos recursos para aquisição desses livros e revistas por quem, antes de se divertir ou distrair, tem é que aprender e trabalhar, caso não consiga bem estruturar o seu tempo para fazer todas essas coisas que se impõem ao indivíduo que vive em sociedade.
3- La lectura de este tipo de literatura, ¿puede estar relacionada con algún momento o circunstancia (por ejemplo: vacaciones, playa, estados depresivos, etc.)?
Pode sim, estar relacionada com as férias na praia, na serra, nos hotéis em região com neve, ou mesmo com estados depressivos, mas não necessariamente.
4- ¿Qué autores y/u obras incluiría en este género o categoría?
Os autores que produzem estes textos para revistas ou livros raramente tem nome ou expressão por si mesmos – na mídia – o que interessa, o que vende, é o título da revista, do livro, a linha editorial. As linhas editoriais estão cada vez mais setorizadas. Até mesmo as ditas revistas de ‘fofocas’ (chisme, paparrucha) já se apresentam ao menos em duas modalidades: Apenas com texto ou com imagem maior e texto mínimo. No entanto, se sobressaem autores de auto-ajuda, que tem um viés e markting ou mercadejar próprios.
Com absoluta certeza, não terei adiantado muito sobre a temática proposta, mas terei minimamente contribuído para o desenvolvimento da proposição. Cumprimento aos leitores.
Artigo composto para La Buhardilla, Rosario, Argentina, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 15 de janeiro de 2007 às 17h43min.
Publicado como entrevista (vertido para o espanhol por Mauro Testa) na edição n° 15 de La Buhardilla, em 30.01.2007. Confira no saite http://www.venetorosario.org.ar/labuhardilla .
* Jurista, Escritor e Poeta – nadirsdias@yahoo.com.br